Reflexão do Evangelho de Jo 14, 27-31: A paz eu vos deixo, a minha paz vos dou - Terça-feira – 20 de Maio
Reflexão do Evangelho
de Jo 14, 27-31: A paz eu vos deixo, a minha paz vos dou
Terça-feira – 20 de Maio
A
vida humana desenvolve-se sob o signo da possibilidade mais do que da
necessidade. Pois o homem é um ser livre, que sempre poderá modificar o ponto
de partida de seu agir, conferindo-lhe a marca de “autenticidade”. Mas ele é também
livre para optar pelos seus objetivos e realizações. Enfim, a liberdade o
define e lhe confere caráter de criatura humana. Daí a importância de ele estabelecer
comunhão e diálogo para um discernimento reto e justo e para alimentar a
esperança, que lhe descortina horizontes sempre novos. Caso contrário, ele pode
enveredar-se para o egoísmo ou para a arrogante e irracional negação da
esperança eterna.
S. Agostinho fala da angústia
e da fragilidade do caminhar humano. É a precariedade da vida. Meditando sobre
ela, Agostinho experimenta a mão misericordiosa de Deus, único uno e indefectível,
tocando-o e convocando-o a “nascer de novo”. Como Nicodemos, ele descobre que a
vida cristã se apresenta qual “filha da esperança e renúncia ao desespero”,
pois, no dizer de S. Irineu, “uma vida sem eternidade é indigna do nome de
vida. Verdadeira é só a vida eterna”. Então, Agostinho rende-se ao poder do
amor e proclama que o amor quer a liberdade do amado, e a fé, dom de Deus,
depende de sua decisão.
Convertido, Agostinho
lança-se nos braços do Imenso. A angústia da alma é absorvida pelo sagrado
temor ou tremor, e ele é envolvido pelo afago do amor, que tudo supera. Realidade
nova e estupenda. Em seu coração reina a paz e em sua alma a serenidade. Soam
aos seus ouvidos interiores as palavras de Jesus, dirigidas aos discípulos: “Eu
vos deixo a paz, a minha paz vos dou”. A paz torna-se uma herança, legada por Jesus
aos seus seguidores. E ao dizer “a minha paz”, ela adquire a consistência do
próprio Deus. A paz é o próprio Jesus e Ele a dá, entregando-se à morte pela
humanidade. Em outras palavras, Agostinho compreende que o Filho não é
totalmente Ele mesmo até que Ele nos inclua nele. Entretanto, não podemos viver
de sua vida, sem amar como fomos amados por Ele.
Toda perturbação é superada, o medo e a
ansiedade vencidos. Opondo-se aos desejos mundanos, mentirosos e vãos,
exteriorizados pelos oráculos dos falsos profetas, a paz encontra raízes na
verdade, anunciada por Jesus e conquistada ao preço de seu sangue. A paz não se
reduz a uma mera fórmula, é um legado e um dom. “Não se perturbe nem se
intimide o vosso coração”, diz o Mestre. Finalmente, Agostinho encontra o que
os judeus esperavam encontrar na Terra Prometida: a paz, que ninguém poderá,
agora, tolher do seu coração.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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