Reflexão do Evangelho de Mt 19, 3-12- Perguntas sobre o divórcio - Sexta-feira 15 de Agosto
Reflexão do
Evangelho de Mt 19, 3-12- Perguntas sobre o divórcio
Sexta-feira 15 de Agosto
Acalorada
era a discussão entre os rabinos sobre o motivo que legitimava o repúdio da
própria mulher. A questão girava ao redor das determinações do Deuteronômio,
cujas expressões eram pouco precisas. Para testar Jesus, os fariseus lhe
perguntam: “É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo que seja?” Os
mais rígidos, escola de Shammai, interpretavam o texto bíblico em seu sentido
estrito: só em caso de uma conduta deveras desonrante. Ou em sentido mais
amplo, escola de Hillel, segundo a qual se podia repudiar a mulher por não
importa qual motivo. A pergunta é capciosa e visa colocar Jesus à prova, no
desejo de arrastá-lo para uma contenda.
Ciente
do que se passa no coração de seus ouvintes, o Senhor situa a questão no quadro
dos desígnios do Pai. Sem negar a Lei, é necessário superá-la não se deixando
limitar por ela ou pela ideia de que Moisés aprovava o divórcio. Com sabedoria,
Jesus põe em evidência o gesto inicial da criação do universo: o amor de Deus,
que não reduz o matrimônio a ser apenas um meio para gerar filhos. Por amor, “no
princípio Deus os fez homem e mulher”, e quando se tornam “uma só carne” o dom da
unidade se perpetua. O Senhor não se reporta ao princípio temporal, mas sim ao
princípio absoluto e eterno de nossa eleição em Deus, que nos chama a ser
imagem da própria Trindade, perfeita unidade no amor.
Através
dos tempos e das civilizações, não menos presente que a natureza humana saída das
mãos de Deus, permanece em nós a marca indelével do seu amor. Nada poderá
destruí-la, nem mesmo o pecado, embora ele nos torne dessemelhantes a Deus,
pois, “sendo amor, escreve S. Gregório de Nissa, Deus colocou, desde a criação,
esta marca em nosso coração”, pela qual vivemos a comunhão com Ele e com os nossos
irmãos.
Como Moisés
outrora, compreendendo a realidade humana, Jesus não deixa de ressaltar o
elevado ideal do matrimônio, sinal sagrado do amor divino, e responde-lhes: “O
que Deus uniu o homem não separe”. Aliás, desde o início da era cristã, os
cristãos bem compreenderam que o matrimônio, instituição natural, foi
enobrecido e elevado por Jesus à dignidade de sacramento, razão pela qual eles
o realizam na Igreja, diante do seu ministro: “in facie ecclesiae”. Em sua carta a S. Policarpo, S. Inácio de Antioquia
declara: “Convém que os homens e as mulheres que se casam, contratem sua união
com o parecer do Bispo, a fim de que seu matrimônio se realize diante do
Senhor”. Certamente, estão presentes a S. Inácio as palavras do Apóstolo S.
Paulo, referindo-se ao matrimônio como imagem da união mística de Cristo com a
Igreja, sua esposa (Ef.5).
Dom Fernando
Antônio Figueiredo, o.f.m.
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