Reflexão do Evangelho - Mt 25, 14-30 - Parábola dos talentos - Domingo 16 de Novembro

Reflexão do Evangelho

Mt 25, 14-30 -  Parábola dos talentos

Domingo 16 de Novembro

     

            Jerusalém está bem próxima. Avizinha-se o fim e Jesus já antevê a cruz como serviço supremo a ser realizado em benefício de toda a humanidade. Nessa situação, compreende-se o fato de os discípulos pensarem que o Reino de Deus ia se manifestar imediatamente. A exigência de estar preparado para aquele momento não leva à utopia de se sentir livre das responsabilidades da vida presente. Muito pelo contrário. Ela postula, justamente, a necessidade de assumir os trabalhos de cada dia. Por isso, Jesus arrefece o entusiasmo dos discípulos pela vinda imediata do Reino, contando-lhes a parábola dos talentos.
           Um homem, de nobre origem, viaja para longe e distribui a dez de seus servos, uma quantidade de bens materiais ou, no dizer bíblico, alguns talentos, que eles deverão restituir com lucro. Ao contar esta parábola, Jesus transmite, antes de tudo, a confiança depositada pelo proprietário em seus servos. De fato, ao viajar ele deixa com eles seu dinheiro para que o usassem como bem entendessem. Alguns são fiéis e multiplicam o que receberam. Outros não. Nos v. 24-26, tem-se a punição do mal servidor pela transferência do capital, por ele recebido, ao servidor fiel.
           Nessa situação, encontra-se cada um de nós. Deus nos concedeu o tesouro da vida, os dons do amor e os bens que possuímos. Podemos escondê-los e seremos ricos egoisticamente, mas pobres diante de Deus. Pois Ele espera que produzamos frutos e sejamos leais à sua mensagem durante a sua ausência, administrando com fidelidade os dons recebidos. Ele retornará; e há de se estar preparado para esse momento.  
          Há aqui uma preciosa lição: Os que negligenciam o que lhes foi confiado por Deus perdem, até mesmo, o que têm. Cabe a cada um a responsabilidade de produzir mais ou perder tudo. Avança-se em direção a Deus ou se retrocede. O próprio Senhor nos atrai e sustenta o nosso esforço, resposta de amor. Então, sem ofuscar a beleza da mensagem evangélica, os dons recebidos tornam-se força capaz de fecundar nossa vida humana em seu ser e agir, aperfeiçoando-nos e conformando-nos à imagem e semelhança de Deus. Assim para S. Boaventura, “o dom de Deus, se ele for acolhido, torna o homem mestre dele e do universo. A criação não será um oceano de passividade. Ela é Deus infinitamente fecundo, engendrando filhos que conduzem a Ele a criação inteira e a humanidade da qual eles não são só pedras inanimadas, mas membros vivos” (Étienne Gilson).
            Segundo alguns autores cristãos posteriores, esta parábola desvela o princípio-chave de compreensão da vida humana, expresso na fórmula: “gratia supponit et perficit naturam”. A natureza, aperfeiçoada pela graça, cruza o portal da esperança no encontro com o seu Senhor. Não são duas realidades que se justapõem. É a realização da natureza, que atinge a sua perfeição, pelo dom da graça.  


 Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.

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