Reflexão do Evangelho de Domingo 23 de agosto

Reflexão do Evangelho de Domingo 23 de agosto
Jo 6, 60-69 - Esta palavra é dura

        Surpresos, os discípulos ouvem Jesus proclamar ser o Pão da Vida, o Pão “que desce do céu para que não morra quem dele comer”. Distantes de seus ensinamentos, eles cochicham entre si, o que sugere que o mundo deles não é ainda espiritual, pois tudo lhes parece muito além da experiência normal. Os olhos do Mestre se fixam neles e refletem certa tristeza. Mas com carinho e paciência, Ele lhes pergunta: “Isto vos escandaliza? ” Sem revogar nada do que tinha dito, Ele volta a ensiná-los.
Jesus fica ainda mais impressionado com a frieza e indiferença dos escribas e fariseus, que o julgavam à beira da loucura. Para eles, é impensável o anúncio do Evangelho da graça e da misericórdia. Assim as muitas tentativas para demovê-los ou levá-los à fé são inúteis. A rejeição é tão grande, que Jesus, num desabafo, exclama: “Vós não conheceis nem a mim, nem a meu Pai! ” 
Vencendo o temor, talvez a timidez, os discípulos confessam: “Esta palavra é dura! Quem pode escutá-la? ” Decepcionados, “muitos deles voltaram atrás e não andavam mais com Ele”. Para seguir Jesus não basta maravilhar-se diante dos milagres, mas é preciso seguir o caminho de um coração ardente, pois ninguém chega ao Reino de Deus simplesmente com a aprendizagem. Por isso, se Ele chega a recriminá-los pela dureza de coração (sklerokardía), não deixa de exortá-los a sintonizar-se com Ele, pois suas palavras não são uma ideia ou uma ideologia, mas comunhão de vida. Ao serem interrogados, se também eles queriam partir, o impetuoso Apóstolo Pedro responde: “Senhor, a quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna e conhecemos que tu és o Santo de Deus”.  Mais tarde, S. Inácio de Antioquia, a caminho do martírio, exclama: “Vós estais todos unidos, rompendo o mesmo pão que é remédio de imortalidade, antídoto para não mais morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempre. Então, uma só coisa importa: ser encontrado no Cristo Jesus, para a verdadeira vida”.

         As palavras de Jesus não são subjetivas nem individualistas, elas se realizam em seus seguidores como vida em comunhão e como comunhão de vida. Não são palavras fragmentárias, nelas sopra a comunhão fraterna, que se concretiza e se solidifica na comunhão eucarística. O corpo eucarístico é presença do corpo histórico de Jesus, nascido de Maria, que, pregado na cruz, sofre a paixão cruenta e, ressuscitado, sobe aos céus. Em sua humanidade eucarística, Jesus compendia o mundo e, como alimento de imortalidade, transfigura-o misteriosamente. Num arrobo místico, confessa S. Ambrósio: “Quem come a vida não pode morrer. Ide a Ele e saciai-vos, porque Ele é o Pão da vida”.

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