Reflexão do Evangelho de Sexta-feira 14 de agosto
Reflexão do Evangelho
de Sexta-feira 14 de agosto
Mt 19, 3-12 - Perguntas sobre o divórcio
Acalorada
era a discussão entre os rabinos sobre o motivo que legitimava o repúdio da
própria mulher. A questão girava ao redor das determinações do Deuteronômio,
cujas expressões eram pouco precisas. Para testar Jesus, os fariseus lhe
perguntam: “É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo que seja? ” Os
mais rígidos, escola de Shammai, interpretavam o texto bíblico em seu sentido
estrito: só em caso de uma conduta deveras desonrante. Ou em sentido mais
amplo, escola de Hillel, segundo a qual se podia repudiar a mulher por não
importa qual motivo. A pergunta é capciosa e visa colocar Jesus à prova, no
desejo de arrastá-lo para uma contenda.
Ciente
do que se passa no coração de seus ouvintes, o Senhor situa a questão no quadro
dos desígnios do Pai. Sem negar a Lei, é necessário superá-la não se deixando
limitar por ela ou pela ideia de que Moisés aprovava o divórcio. Ele rejeita a
casuística judaica e, com sabedoria, remete os ouvintes ao gesto inicial da
criação: o amor de Deus, que não permite reduzir o matrimônio a ser apenas um
meio para gerar filhos. Foi por amor que “no princípio Deus os fez homem e
mulher”, e quando se tornam “uma só carne” o dom da unidade se perpetua. O
Senhor não se reporta ao princípio temporal, mas sim ao princípio absoluto e eterno
de nossa eleição em Deus, que nos chama a ser perfeita unidade no amor, pois
sendo amor, escreve S. Gregório de Nissa, Deus colocou, desde a criação, esta
marca em nosso coração. Portanto, situado no interior da teologia bíblica da
aliança, o matrimônio expressa a comunhão íntima de vida e de amor entre os
cônjuges.
Concepção
grandiosa e elevada do matrimônio, que vai além da descrição de uma situação
determinada, e enuncia uma promessa escatológica, para a qual todos caminham. Assim,
a cada momento somos reenviados à ação misericordiosa de Deus, que nos renova e
nos permite recomeçar o caminho com nova esperança. Neste sentido, a resposta
dada por Jesus: “o que Deus uniu o homem não separe”, não constitui uma norma
jurídica, mas antes um princípio fundamental a ser observado. Assim o
matrimônio, instituição natural, não é diminuído, mas enobrecido e elevado por
Jesus à dignidade de sacramento, razão pela qual os primeiros cristãos o
realizam na Igreja, diante do seu ministro: “in facie ecclesiae”, na expressão de S. Inácio de S. Inácio de Antioquia
em sua Carta a S. Policarpo. No caso de pecado ou de ruptura, indica-se a via
penitencial, que compreende não pesadas penas, mas uma nova orientação,
acompanhada pela conversão e pelo arrependimento sincero.
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