Reflexão do Evangelho - Domingo, 23 de outubro
Reflexão do
Evangelho
Domingo, 23 de
outubro
Lc 18, 9-14 - O
fariseu e o publicano
Os fariseus buscavam corresponder às
exigências da Lei, visando, acima de tudo, à santidade e à pureza de Israel.
Praticamente, no mesmo nível, eles colocavam as explicações da Lei, a halakha,
que eram tidas como medidas preventivas para impedir a sua não observância.
Zelosos, eles procuravam se mostrar justos, e “assim queriam ser considerados
pelos homens”, assinalando, dessa maneira, que Israel seria um povo separado
dos pagãos. Dentre eles, havia os que tinham seu coração coberto pelo véu da
vaidade e do orgulho, e que se esqueciam de que todos são chamados a colaborar
na construção de um mundo na justiça e na paz: imperativo divino da
misericórdia de Deus, no dizer de Jesus, não resultado “de obras”, como por
vezes eles interpretavam.
O
antídoto para se afastar do pecado e obedecer aos mandamentos da Lei é indicado
por Jesus: a humildade. Ao reconhecer que tudo é gratuitamente dado, o humilde
dirige uma prece confiante e agradecida a Deus, que o acolhe e o justifica. Para
exemplificar, Jesus conta a parábola do fariseu e do publicano, que subiram ao
Templo para orar. Com presunção, o fariseu vangloria-se de tudo quanto foi
realizado por ele e distancia-se do arrependimento e da purificação interior. Nele,
a observância estrita da Lei, sem se estender às intenções mais íntimas do
“coração” do homem, coroa a prática de suas “virtudes”. Ele sai do Templo, sem ser
justificado. Enquanto o publicano, em sua prece confiante e humilde, sai justificado,
“porque Deus não ouviu simplesmente suas palavras, observa S. João Crisóstomo, mas
também leu a alma daquele que a proferia e, encontrando-a humilde e contrita,
Ele a julgou digna da sua compaixão e do seu amor”.
Ao rebaixar o fariseu, líder religioso, e
elevar o publicano pecador, Jesus descreve a natureza da oração e a nossa
relação com Deus. Santo Agostinho pergunta: “O que pediu a Deus o fariseu? Se buscas
em suas palavras, tu não encontrarás nada. Ele subiu para rezar, mas não
desejava suplicar ao Senhor: antes, queria louvar a si mesmo. Não louvar a
Deus, mas louvar-se era ainda muito pouco; ele exterioriza seu desprezo por
aquele que rezava com humildade”. “Quanto ao publicano, continua Santo
Agostinho, ele se mantinha à distância, sem ousar nem sequer elevar os olhos
para o céu, porém, próximo a Deus. Sua consciência o movia e um sentimento
filial o ligava ao Senhor. Deus o escutava de perto”.
O
Senhor teve misericórdia do publicano que confessou sua falta e concede-lhe
participar da benevolente salvação eterna. “O fariseu, exclama São Basílio
Magno, perdeu a glória da justiça pelo pecado da soberba”, pois julga obter a
salvação por suas próprias obras, não negadas por Jesus, que, porém, exige mais
(perissós=que vai além do normal): “Pois também não fazem os gentios a mesma
coisa? Portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt
5,48). Por sua vez o publicano experimenta a misericórdia divina, torna-se ele
mesmo misericordioso e, justificado, participa da intimidade da vida de Deus.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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