Reflexão do Evangelho quarta-feira – 05 de outubro





Reflexão do Evangelho quarta-feira – 05 de outubro
Lc 11,1-4 - A oração do Pai-Nosso


A experiência de Deus como Pai não é desconhecida a Israel, embora nas preces habituais, no tempo de Jesus, não se dirigisse a Deus como Pai. No entanto, nos Evangelhos, por doze vezes, sem contar os textos paralelos, Jesus se dirige, em sua oração, “ao Pai”, com quem Ele se relaciona de modo natural e simples. Essa atitude de Jesus, que expressa uma profunda experiência religiosa de intimidade com Deus, ficou gravada no coração de seus discípulos, que assumiram também para si o “Pai-Nosso”, como fórmula de oração. Intimidade que não se restringe à oração, mas se estende à sua mensagem, atividades e até ao seu modo de falar, provocando espanto aos ouvintes, já escandalizados pela autoridade com que Ele falava da vinda do Reino de Deus como salvação para a humanidade.
A oração do Pai-Nosso se inscreve no âmbito da cotidianidade da vida cristã, conforme recomendação da “Didaqué ou Doutrina dos Doze Apóstolos” (dos anos 60-80 d.C.) dada pouco antes de transcrever o Pai-Nosso: “Assim orareis três vezes ao dia”. Aos que se preparavam para o batismo, os catecúmenos, ela é entregue solenemente, suscitando belíssimos comentários em muitos Padres, entre os quais Tertuliano, S. Cirilo de Jerusalém, S. Agostinho e S. Pedro Crisólogo. Assim, em seu comentário sobre o Pai-Nosso, S. Cipriano lembra que ao se dizer: “Santificado seja o vosso nome”, não estamos santificando o Senhor com nossas orações, “mas estamos pedindo a Ele que o seu nome seja santificado em nós”.
“Venha a nós o vosso reino”: esta talvez seja a súplica mais importante feita pelos primeiros cristãos, que experimentavam a presença de Jesus, agindo na história para o seu bem, e também já aguardavam a sua vinda final, quando então Ele iria estabelecer definitivamente seu reino de paz e de felicidade. Dessa maneira, o Pai-Nosso é a força que mantém em coesão a comunidade dos discípulos, que, voltados para Deus, abrem o coração ao seu incondicional amor por todas as criaturas; é a energia espiritual interior que leva cada um deles à comunhão é à doação mútua, permitindo-lhe dizer, não “meu” Pai, mas “nosso” Pai, a quem ele pede o pão “nosso” de cada dia. O perdão, a ele concedido, é vivido no perdão aos seus semelhantes, que efetiva, em seu coração, a bondade de Jesus, sinal de sua misericórdia. Consequentemente, ser cristão é ser “misericordioso, como o Pai celeste é misericordioso”: no perdão do Filho Jesus, ele é recriado, torna-se nova criatura, e é “luz do mundo”, no despontar de um novo céu e de uma nova terra. Na oração do Pai-Nosso, o discípulo abandona o egoísmo e se abre à comunhão com Deus e com os irmãos, e cuida da criação, com respeito e amor desinteressado.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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