Reflexão do Evangelho - Domingo, 29 de janeiro
Reflexão do Evangelho
Domingo, 29 de janeiro
Mt 5,1-12 - As bem-aventuranças
Numa
bela manhã de primavera, o sol inundava a planície em que se encontravam Jesus,
ao seu redor, os Doze, o grupo dos discípulos e o povo que Ele tanto amava. Em
suas mentes, estavam ainda presentes as primeiras palavras, ditas por Ele, no
início de sua missão: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Agora, em sua
pregação e ensinamentos, Ele quer tornar presente, no íntimo da vida de seus
ouvintes, a caridade em sua forma mais autêntica e pura. Ele fala com doçura e
simplicidade; trata-se do cumprimento do sentido supremo da Lei, que Ele veio
não para abolir, mas para cumprir, e da intenção mais íntima do ser humano: a
felicidade, guardada no “coração”, justamente “onde, salienta S. Leão Magno, a
mão veloz do Verbo escrevia os decretos da nova Aliança”, as bem-aventuranças.
Daí se infere que a novidade trazida por Jesus é a interiorização da Lei, pois
o que lhe importa é viver, indo além da insipidez da casuística, a justiça e a
misericórdia, e é reconhecer como norma de vida a perfeição do Pai: “Sede
perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”.
Ele, o Novo Adão, mostra que o objetivo
principal da Lei é viver o mandamento do duplo amor, o amor a Deus e a
proeminência do amor ao próximo, estabelecendo uma relação harmoniosa de uns
com os outros: eis “a vida pura e sem mistura das bem-aventuranças”, no dizer
de S. Gregório de Nissa. Assim, proclamando as bem-aventuranças no alto da
montanha, como novo Moisés, Jesus transmite aos seus seguidores, não uma lei,
mas a força do amor e da solidariedade, a coragem de sustentar a verdade e de viver
a misericórdia. Como os profetas, Ele protesta contra o fato de o povo não só
ter se afastado do Pai e da Aliança, mas também ter abandonado a situação
original de igualdade e de comunhão: Ele anuncia e denuncia.
Nesse sentido, as bem-aventuranças falam
de despojamento e de pobreza, e atestam que a riqueza essencial reside em não
estar fechado sobre si mesmo, mas estar em perpétua interlocução com os outros
e com Deus: trata-se de participar do coro universal de louvores a Deus. Assim,
na medida em que o discípulo se deixa guiar pela liberdade interior, calam-se
as paixões, os movimentos da alma se transformam em caridade e ele trilha o
caminho que o introduz na Terra Prometida: “Então, o direito habitará no
deserto e a justiça morará no vergel. O fruto da justiça será a paz, e a obra
da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança para sempre” (Is
32,15-17).
Pelas bem-aventuranças, o homem
conquista sua liberdade e vive a comunhão como valor supremo da fé: instaura-se
em Cristo, em forma de perdão e de misericórdia, a verdadeira nova criação de
Deus. Todos se reconhecerão irmãos e viverão não só por Cristo e nele, mas
estarão diante dele, num processo dinâmico, que os orienta para um fim
escatológico: a comunhão dos santos.
Dom Fernando
Antônio Figueiredo, ofm
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