Reflexão do Evangelho - Terça-feira, 10 de janeiro



Reflexão do Evangelho
Terça-feira, 10 de janeiro
Mc 1,21-28 - Jesus em Cafarnaum e a cura de um endemoninhado


Em sua peregrinação, Jesus e os Apóstolos iam a Cafarnaum, mais do que a outras cidades. Lá, Jesus permanecia na casa de Simão Pedro ou de André, seu irmão. No sábado, eles iam à sinagoga, lugar de encontro da comunidade, para as orações e as leituras dos textos bíblicos. Por ocasião da instrução, a fim de transmitir à assembleia uma palavra de esperança e de consolo, o chefe da sinagoga convidava, conforme costume antigo, um dos membros visitantes para administrá-la. Assim, Jesus teve a oportunidade de realizar em Cafarnaum suas primeiras curas, como também de falar muitas vezes à comunidade. Porém, com uma peculiaridade: Ele falava ao coração dos ouvintes com palavras de poder e de sabedoria, anunciando o Reino de Deus, início do tempo final escatológico. Cafarnaum tornou-se, deveras, um campo (Caphar) de consolação (Naum) para seus habitantes, que “se extasiavam com os seus ensinamentos, porque Ele ensinava com autoridade e não como os escribas” (v.22). Mestre qualificado, Ele dava orientações bem determinadas ao agir dos que nele confiavam e os exortava com firmeza e lucidez, sem fanatismo e tons patéticos. 
        No entanto, o que mais os impactava era seu modo franco e transparente de falar, e a liberdade com que interpretava a Lei e os profetas. Falava, não a partir das opiniões dos rabinos, nem das orientações de Moisés ou de algum dos profetas, mas com autoridade (ecsousia) própria. No dizer de S. Jerônimo, “Ele ensinava como Senhor, não se apoiando em outra autoridade superior, mas a partir de si mesmo”. Numa dessas ocasiões, Ele cura um endemoninhado, que gritava: “Que queres conosco, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus”. O embate com o Mal é descrito pelo Evangelista como uma luta pela preservação da liberdade interior, dom concedido por Deus ao homem, “que pode, no dizer de Orígenes, conduzi-lo ao cume do bem ou precipitá-lo no abismo do mal”. A luta abrange o homem em seus desejos e ações, em seu corpo e espírito.
Porém, os membros da sinagoga, diante da cura, pasmos, exclamam: “Um novo ensinamento com autoridade! Até mesmo aos espíritos impuros dá ordens, e eles lhe obedecem!”. De fato, embora não sejam essenciais, os milagres e a expulsão de demônios colaboram para reforçar a mensagem de que Deus não abandonou o homem, mas assumiu, no Filho Jesus, sua história e sua vida. Daí o imperativo proposto por Jesus aos discípulos, desejosos de alcançar a paz e a felicidade: terem o coração aberto à bondade de Deus, que permanece fiel à Aliança outrora estabelecida com Israel. Pois Deus está lá, sempre de novo, sempre inesgotável, em seu amor misericordioso para com a humanidade.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm



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