Reflexão do Evangelho - Terça-feira, 17 de janeiro



Reflexão do Evangelho
Terça-feira, 17 de janeiro
Mc 2,23-28 - A colheita das espigas


O Sábado encerra o ritmo sacro da semana com um dia de encontro cultual e de repouso para todos, escravos e livres. Particularmente, é um dia reservado à oração e à meditação, alimentos necessários à alma; também, é ocasião para celebrar a bondade de Deus e a grandeza de sua obra criadora. Mas havia os que o interpretavam de modo muito estrito, e exigiam a sua observância com todo rigor. São os escribas e fariseus, que ficaram escandalizados quando viram os discípulos de Jesus, movidos pela fome, colherem umas espigas de milho para comer, o que não era, aliás, estranho aos costumes da época, mas não em dia de sábado.  
O comportamento dos discípulos não foi considerado por eles como consequência de uma necessidade premente, fato que justificaria a ação deles; aproveitaram, maldosamente, a ocasião para responsabilizar o Mestre por dispensá-los das obrigações legais, aceitas por todos. Em resposta, Jesus os envia a Davi, que, num dia em que teve fome, ele e seus companheiros entraram na casa de Deus e comeram os pães da proposição, direito que cabia unicamente aos sacerdotes. Após lembrar que se tratava, agora, do Filho do Homem, Ele censura o rigorismo exagerado dos fariseus e lembra que o sábado não é para ser visto como uma lei arbitrária e tirânica, mas como um dia da semana que proclama e recorda a todos a disposição benevolente de Deus para proteger o homem em sua vida e em seu trabalho.
Jesus não incita a trabalhar no sábado; quer apenas fazê-los compreender que o sábado jamais exclui as obras de caridade e os atos de misericórdia para com o próximo. Sua crítica não é contra a Lei, mas contra as obrigações formais e as prescrições jurídicas, que perderam seu sentido religioso e se tornaram pesados fardos colocados sobre os ombros do povo. Por isso, como profeta que busca o bem da humanidade, Ele se volta para os fariseus, que hostilizam os discípulos, e afirma: “No dia de sábado é permitido fazer o bem”. Pouco antes, Ele já havia dito: “O sábado foi feito para o homem, não o homem para o sábado”, com o intuito de suscitar a ideia de que todos os que têm a Lei de Deus no coração agem com misericórdia, inclusive no sábado. Palavras claras e insistentes, que não encontram, porém, ressonância junto aos escribas e fariseus, que permanecem irredutíveis.
Logo em seguida, sem se perturbar, Jesus entra na sinagoga, centro de influência dos fariseus, e cura a mão atrofiada de um homem, lançando um desafio: “Será permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar ou tirar uma vida? ”. Novamente, destaca S. Cirilo de Alexandria, “eles são convidados a praticar as obras de misericórdia que Deus espera de todos nós”. Agora importa, sem desprezar o antigo, construir um novo edifício, ao qual presidem a caridade, a fé e a atitude espiritual interior, manifestadas no “fazer o bem”; trata-se de derrubar o muro erguido por eles, em redor da Lei, que os impede de “ajudar um homem infeliz”, obra sabática por excelência.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm



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