Reflexão do Evangelho do dia 01 de Dezembro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Sábado – 01 de dezembro
Lc 21, 34-36 – Vigiar para não ser surpreendido

Deus oferece o maior e mais belo tesouro, seu Reino de paz, de alegria e de justiça. Porém, podemos perdê-lo caso não formos vigilantes. Ao falar, Jesus se reporta aos dias “que precederam ao dilúvio”: “Estavam eles comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca” (v.37s). E ele conclui, “assim acontecerá na Vinda do Filho do Homem”. Orígenes, grande escritor do século III, exorta “a vigiar, à tarde, isto é, na juventude, à meia noite, na idade média, ao canto do galo, no tempo da velhice ou de madrugada, quando a velhice está já avançada”. Continua ele – “Virá o Senhor ao que não deu sono aos seus olhos, nem descanso às suas pálpebras, e guardou o mandamento daquele que disse: Vigiai em todo tempo”. Ocorrerá, então, a parusia, a volta de Jesus, em sua glória no tempo do Fim. Os que se prepararam, na observância de seus ensinamentos, participarão da plenitude da sua alegria na glória do Pai. A alegria não dispensa a cruz. Ela a compreende e é vivida por todos os que abraçam os sofrimentos de Jesus e se empenham em aliviar as dores e angústias de seus irmãos.
Mas a vinda do Senhor, quando será? No v. 42, Jesus ensina aos discípulos que “quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai”. O próprio Jesus diz: “Não vos pertence saber”. S. João Crisóstomo vê nestas palavras o apelo do Senhor para que “cada um sempre o espere e sempre se empenhe” no serviço aos pobres e desvalidos. Por conseguinte, nestes poucos versículos, o autor bíblico delineia a sorte contrastante dos judeus incrédulos e dos discípulos de Cristo, vigilantes. Tal quadro é projetado na história e atravessa os tempos na caminhada para o encontro final com Cristo.  
        Tem-se presente que a culpabilidade é sempre pessoal. Ela é medida pelo grau de consciência e de liberdade com que cada um participa do “pecado do mundo”. Daí se concluir que a retribuição final será também pessoal. A alma deseja unir-se diretamente ao Senhor, diz S. Agostinho, “sem que nada se interponha entre ela e Deus”. A Tradição cristã chama este momento de julgamento pessoal, para distingui-lo do julgamento último, universal. Embora também ele não deixe de ser pessoal. Em outras palavras, é necessário viver cada instante, intensamente, segundo a vontade do Pai, sem deixar jamais de lê-lo nos horizontes ternos do mistério misericordioso de Deus. O homem, então, é criado novo, “numa paz e num silêncio indizível”. É comunhão com o Outro, cuja alteridade permanece irreduzível. Porém, a alma, incendiada pelo amor proveniente de Deus, é atraída à profundidade do mistério trinitário.

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