Reflexão do Evangelho do dia 29 de Novembro de 2012
Reflexão de Dom
Fernando Antônio Figueiredo para:
Quinta-feira – 29 de
novembro
Lc 21, 20-28: Jerusalém
cercada, a desolação
Desolação, expressão retomada por todos os
Evangelhos Sinóticos numa referência à profecia de Daniel 9,27 sobre as 70
Semanas. De acordo com as profecias, o mundo caminha para o fim. Portanto, o
que Jesus fala sobre o fim dos tempos, o dia do julgamento e a destruição de Jerusalém,
não era novidade para os judeus. O termo desolação, em grego “erémwsis”, alude
a um lugar deserto, em que as pessoas se sentem abandonadas. Em seu sentido
religioso, a palavra conduz ao esquecimento da Aliança com Deus. É ausência ou
falta de afeição às realidades de Deus. O discípulo torna-se, interiormente, árido
no seguimento do Senhor, resvalando para a corrupção, com o consequente enfraquecimento
do ideal de vida.
Assim, as imagens da
destruição do Templo, morada de Deus, vão adquirindo um forte significado para os
discípulos de Jesus. Sobretudo, quando Jesus a descreve como desolação, que
indica, mais radicalmente, a perda da morada interior, onde Deus habita. Para reconstruí-la
é necessário ir ao encontro do Pai de Jesus Cristo levando uma vida de total
doação e engajamento. Pois afastar-se de Deus é abandonar sua verdadeira identidade,
esquecer sua origem e acolher os ídolos. Daí o fato de Jesus empregar o termo abominação,
palavra hebraica que significa detestação, horror diante dos ídolos.
Traça-se, assim, o quadro do fim dos tempos e anuncia-se o dia do duro
julgamento para os que recusam a palavra de Deus, afastando-se da graça e da
salvação. Estes permanecerão no vazio, numa vida sem Deus, na desolação. S. Cipriano
e S. Agostinho afirmam que, nesse dia final, não estarão sob o teto da
fraternidade os que não se purificaram e não se dispõem à comunhão. Porém, o
apelo do Senhor, para que todos se voltem para Deus, ressoa e pode ser ouvido
por todos. O amor do crucificado quer lavar e purificar todos os corações. Ao
que se afeiçoa à pessoa de Jesus, seguindo-o, escreve S. Ambrósio, “o fim do
mundo não lhe será estranho, pois já acolheu a vinda do Senhor, nascido da
Virgem Maria”.
Em seu ministério público, Jesus prepara seus
discípulos, dando-lhes a certeza de que não os deixará sozinhos, mesmo em momentos
difíceis e em tempo de tribulação. Os santos e os mártires, submetidos a tormentos
e à morte, transformaram a prisão em templo de oração e em lugar de acesso ao
trono da glória de Deus. Jamais se afastaram da presença salvadora de Jesus. Ainda
que perdessem a vida corporal, conservaram sua alma intacta para o Senhor.
Escreve S. Agostinho: “O mártir não se afasta do Senhor, mantém-se na fé e não
teme a morte, pois sua morte corporal não se deu por ter-se afastado dele”. A
desolação não tem lugar em sua existência.
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