Reflexão do Evangelho do dia 12 de Novembro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Segunda-feira – 12 de novembro
Lc 17, 1-6 – Correção fraterna

        Nesta passagem, Jesus fala da liberdade espiritual necessária para restaurar a boa convivência e a amizade entre as pessoas. Não se trata simplesmente de um procedimento social, mas de uma atitude espiritual nascida da comunhão com Deus. O coração do discípulo, movido pela caridade (ágape), jamais abrirá espaço para algo que possa escandalizar, destruir ou prejudicar a vida de seu semelhante. Nele viceja uma harmoniosa relação entre o espírito e a graça, conduzindo-o à união com Deus, fonte de íntimo e verdadeiro respeito para com todos. Sua vigilância há de ser constante e seu esforço não menos incessante no desejo de que todos se orientem para Deus. Eis o horizonte, no qual se compreende a correção fraterna, cujo objetivo será reorientar para Deus aquele que errou ou praticou o mal.
        O modo como Jesus apresenta a correção fraterna é bastante simples, pois ela abrange uma realidade sensível e bem delicada. Para exercê-la seu discípulo percorrerá espontaneamente algumas etapas. Poderá contar com a ajuda de mediadores, em âmbito individual e privado ou em âmbito mais oficial, ou seja, envolvendo os representantes da Igreja. Neste caso, aparece a função sacramental do sacerdote. S. Cesário de Arles recomenda: “Não demos unicamente o pão aos que têm fome, mas apressemo-nos em conceder nossa indulgência aos que pecaram contra nós. Quanto ao modo de aplicar aos nossos inimigos o remédio da verdadeira caridade, mesmo quando eles não nos pedem, encontramos no Evangelho: ‘Se teu irmão pecou contra ti, repreende-o pessoalmente’. Se negligencias este mandamento do Senhor, tu és pior que teu adversário: pois ele te fez mal, e te fazendo mal, ele se feriu gravemente. Negligencias a ferida de teu irmão? Tu vês que ele morre ou que ele vai morrer, e tu não te importas? Tu és pior, calando-te do que ele te ofendendo. Repreende-o a sós: sê cheio de fervor para corrigi-lo, mas poupa o seu respeito humano! Pois a vergonha poderia levá-lo a defender o seu pecado; e, aquele que queres tornar melhor, tu o tornarias pior”.
        De fato, temos a obrigação de repreender imediatamente nosso irmão, para que ele não permaneça no pecado. Escreve S. Jerônimo: “Não só temos o poder de perdoá-lo, mas somos obrigados a fazê-lo, pois nos foi ordenado a perdoar os que nos ofenderam”. Se à primeira vista, alguém pensa que poderia deixar o pecador entregue ao seu próprio destino, “Jesus mostra, ao contrário, proclama S. João Crisóstomo, a necessidade de buscar muitas vezes curá-lo da sua culpa”. Move-nos o desejo de “realizar uma mudança na conduta de sua vida” (S. Agostinho). Caso ele não nos escute, nem mesmo diante de duas ou três testemunhas, continua S. Agostinho, e “ainda que ele não seja considerado mais, pela Igreja, como um dos teus irmãos, nem, por isso, deixes de preocupar-te com a sua salvação. Mesmo os gentios e os pagãos, embora não os arrolemos entre os irmãos, no entanto, buscamos sempre a salvação deles”.
        A correção fraterna se funda no infinito amor de Deus, participado por nós. O amor não é uma qualidade acidental, dependente unicamente de nossa natureza criada, mas é um dom divino e deificante, que nos permite penetrar na vida trinitária e tornar-nos sempre mais semelhantes ao nosso Criador (divinae consortes naturae). S. Basílio Magno fala que ele é uma semente ou força (he agapetiké dýnamis), que nos impele a alcançar a perfeição no amor divino. Vitória do bem sobre o mal, pois pelo amor se dissolve em nós o rancor, o ressentimento e o ódio. A aquisição do amor divino é atestada no amor ao próximo. Uma de suas expressões: a correção fraterna.

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