Reflexão do Evangelho do dia 04 de Novembro de 2012
Reflexão de Dom
Fernando Antônio Figueiredo para:
Festa de todos os
Santos – 04 de novembro
S. Mateus 5, 1-12 -
As bem-aventuranças
O termo grego
“makários” (feliz) corresponde a “baruk”, em hebraico, e se relaciona com as
promessas da aliança, anunciadas no sermão das bem-aventuranças. Elas indicam o
cumprimento de todas essas promessas. São bênçãos da aliança eterna para o novo
povo de Deus. Se elas descrevem a serenidade no tempo presente, também
expressam a felicidade eterna saboreada pelo homem quando da visão de Deus. As
perfeições evangélicas, exaltadas por Jesus no sermão da montanha, como meios
para alcançar a paz e a harmonia, apontam também para a salvação escatológica.
Em suma, designam a serenidade concedida à alma agora, pela contemplação, e na
eternidade, pela visão beatífica.
Em
suas palavras iniciais, Jesus convida seus ouvintes a alçarem seus olhos ao
céu, no intuito, comenta Orígenes, “de fazê-los elevar seus pensamentos para o
alto”. Jesus promete torná-los felizes nesta terra e, especialmente,
conduzi-los à bem-aventurança perfeita do céu, já participada aqui e agora, em
meio aos sofrimentos deste mundo. É o que nos diz S. Gregório de Nissa, em suas
“Oito homilias sobre as bem-aventuranças”. Escreve ele: “A bem-aventurança é a
vida pura e sem mistura. Ela é o bem inefável, inconcebível, a inexprimível
beleza, o poder que está acima de tudo, o único desejo, a realidade sem
declínio, a exaltação sem fim”.
As
quatro primeiras bem-aventuranças expressam a esperança presente no coração de
todo o povo de Deus. É a restauração do domínio de Deus ou do seu reinado. Em
Deus serão saciados os que têm fome e sede de justiça, os pobres em espírito
(os anawe ruah). Serão consolados os aflitos, os maltratados e os abatidos. As
demais bem-aventuranças proclamam o amor fiel (hesed) dos que ouvem e observam
os ensinamentos do Senhor. No vigor do amor, eles experimentam a serenidade,
vivem pacificamente, e proclamam a recompensa prometida. Diz Jesus:
“Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque no céu será grande a vossa
recompensa”.
Portanto, as bem-aventuranças restauram a
criatura humana em sua liberdade fundamental. Pois só quem é, interiormente,
livre as vive intensamente. Estará unido a Cristo, assemelhando-se a ele, em
sua humildade. Mais ainda. No discípulo, reflete-se a divina humildade, a
encarnação (kénosis) do “Servo sofredor”, de tal modo que, ao expressar o
desejo de eternidade, de paz e de justiça, ele não se altera diante das
hostilidades e injustiças, mas as supera. Na liberdade da pobreza em espírito,
ele permanece sereno, confirmando, assim, sua verdadeira identidade, vivificada
pelo dinamismo do amor. Cumpre-se nele o reinado de Deus, que chegou a nós com
a vinda de Jesus.
Tornam-se,
então, compreensíveis as palavras de S. Gregório de Nissa: “Só Deus é bem-aventurado. E a comunhão na bem-aventurança só nos
é acessível se nos tornarmos semelhantes a ele”. Gregório explicita que o “assemelhar-se”
significa “a pobreza em Espírito, que leva a viver, na renúncia, a humildade
voluntária de um espírito humano livre; e o Apóstolo dá-nos um exemplo dessa
pobreza de Deus quando nos diz: ‘Sendo rico, fez-se pobre por vós, a fim de
enriquecer-vos com sua pobreza’” (2Cor 8,9).
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