Reflexão do Evangelho do dia 07 de Novembro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Quarta-feira – 07de novembro
Lc 14, 25-33: Renunciar ao que temos de mais caro
       
        Movidas pelo desejo de unidade e de amor, as multidões acompanham Jesus por toda parte. Ele as conduz ao Pai e, na manifestação de seu quase “louco” amor pelo homem, ele deixa cada um pressentir, em seu coração, o abismo da divina Sabedoria. A pouco e pouco, muitos dos que o acompanham compreendem que segui-lo significa ser regenerado na fé e, nascido do alto, ter uma vida nova na experiência de Deus. O encontro com Jesus, face humana de Deus, não os priva do humano, mas leva-os à plenitude de sua identidade na Vida divina, espaço de liberdade e de união com o Imortal. No entanto, há condições a serem cumpridas. Diz Jesus: “Se alguém vem a mim e não odeia pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo”.
        Não nos assustemos com tais palavras. Elas não visam aplacar “a cólera” de Deus ou satisfazer a justiça divina. Seria uma visão não bíblica. Ao contrário, o Senhor quer que seus ouvintes ofereçam a Deus o sacrifício de Abraão, sacrifício de louvor e de santificação. Unindo-se ao sacrifício de Jesus, eles oferecem ao Pai sua vida e o que lhes pertence. Anima-os a fé e sua oferta transforma-se em Páscoa, “passagem” das realidades criadas ao Reino do amor e da vida. S. Basílio recorda que “essa severa declaração é feita pelo próprio Filho unigênito do Deus vivo, este que foi enviado pelo Pai não para julgar o mundo, mas para salvá-lo, fiel a si mesmo e desejoso de cumprir a vontade de Deus, que é bom e é seu Pai. Ao falar do ódio, ele não intenciona despertar em nossos corações tramas e insídias, mas quer conduzir-nos à virtude da piedade e a rejeitar a voz dos que nos desejam desviar dos ensinamentos divinos”.
A fé, purificação interior, descerra os olhos do coração e os abre à contemplação das belezas e riquezas de Deus. Então, o verbo odiar assume uma conotação nova, a de não considerar como valor supremo da vida as realidades do mundo, quaisquer que elas sejam. Assim, penetrados pelo amor divino, purificados, seus seguidores amam, em profundidade e santamente, seus parentes e familiares, seus irmãos e semelhantes.  São inseridos no próprio coração do Senhor e experimentam a força do seu amor por todos, por seus familiares e, também, por seus inimigos.  
        Daí a enfática palavra de Jesus: “Quem não carregar a sua cruz, quem não renunciar a si mesmo, não pode ser meu discípulo”. Ou, ainda: “quem não odiar sua própria vida não poderá seguir-me”. Verdadeiro hino de louvor à liberdade, que permite colocar nossa vida, generosa e despretensiosamente, a serviço de Deus na dedicação aos irmãos. Só, então, seremos verdadeiros seguidores daquele que se fez pobre por nosso amor. E, despojados e livres, alcançaremos o verdadeiro “sentido” da vida, a unidade tão almejada, a força que une nossa inteligência, nosso desejo e nossa força, transfigurados no crisol da luz divina. Realizam-se as palavras do salmo: “Nossa juventude se renova como a da águia”. 

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