Reflexão do Evangelho de Quinta-feira – 20 de Março
Reflexão do Evangelho
de Quinta-feira – 20 de Março
Lc 16, 19-31:
Parábola do mau rico e do pobre Lázaro
A
parábola não fala de um rico anônimo, voluntariamente cruel ou desdenhoso. Ele
simplesmente ignora o pobre, embora este permaneça à sua porta. Exclama S.
Jerônimo: “Ó mais infeliz entre os homens, vês um membro do teu corpo prostrado
diante da porta e não tens compaixão. Em meio às tuas riquezas, o que fazes do
que te é supérfluo?” Em muitos corações brama a mesma indignação ao verem
tantos famintos, desprezados e rejeitados. Quantos, porém, vivem ao lado da
miséria, sem vê-la, indiferentes e alheios ao sofrimento dos indigentes. O abismo
entre Lázaro, no céu, e o rico, no inferno, foi criado durante sua vida terrena.
Ouve-se a dura repreensão de S. Gregório Nazianzeno: “Imitai a imparcialidade
de Deus, e não existirão mais pobres”. Forte apelo para despertar o amor e a
responsabilidade para com os pobres, quer em nível social quer em âmbito de
vida particular.
O nome Lázaro, dado por Jesus ao pobre, significa
“Deus é meu auxílio”. Apesar de uma vida adversa e sofredora, ele não perde sua
esperança em Deus. Seus olhos contemplam os tesouros do céu. O mau rico nada vê
além das riquezas terrenas, pois permanece preso aos bens materiais e aos
prazeres humanos. Preocupado em buscar a felicidade terrena, nem nota o que se
passa ao seu redor. Seu coração permanece fechado e vazio. Observa S.
Agostinho: “Jesus não se referiu ao nome do rico, mas disse o nome do pobre. O
nome do rico andava de boca em boca, mas Deus não o nomeia; silenciavam o nome
do pobre, mas Deus o revela. Assim, Deus, que habita no céu, silencia o nome do
rico porque não o encontra inscrito no céu. Porém, declara o nome do pobre
porque aí o encontra inscrito, por sua própria solicitação”.
Pródiga
em imagens, a parábola retrata a retribuição pessoal concedida a Lázaro e traça
os sofrimentos do rico, logo após a morte. Não se espera o fim dos tempos ou o julgamento
último. A morte já os introduz na eternidade, marcada por um destino irrevogável.
Estaria Jesus sendo muito severo? Já no Antigo Testamento, ao se falar da
esmola, sugerem-se consequências para a eternidade. Se ela “cobre uma multidão
de pecados”, é necessário que ela não se resuma só à dádiva material. Unindo-se
à caridade, ela comporta também um cuidado pessoal com o infeliz, pobre ou
desamparado. Pois, diz S. Gregório de Nissa, “os pobres são os administradores
de nossa esperança”.
O propósito da
parábola é traduzir, com veemência e ardor, um apelo à conversão, exortando: afastem-se,
de todos, as trevas do egoísmo e da ganância, do indiferentismo face à miséria
do próximo, e abra-se o seu coração à generosidade e ao amor dadivoso e
desinteressado. Clama S. Hilário de
Poitiers: “Deus não é medo, castigo, remorso, mas boa nova, amor, Ele é Pai”. Recordando
a passagem do Evangelho: “com a medida com que medis sereis medidos”, S.
Agostinho insiste: “ao rico, no tormento, é negada a misericórdia, porque não
quis usar de misericórdia em sua vida. Por isso, quando em meio aos
sofrimentos, ele invoca a piedade, não é ouvido, porque sobre a terra não
acolheu as súplicas do pobre”. S. Lucas
fustiga a dureza do coração, pois o Senhor está sempre pronto a perdoar e
acolher os que estão abertos a Deus e ao próximo. A luz divina, que penetra o
espírito humano vem do alto, qual apelo ao amor, e quer transfigurar o coração,
a mente e o desejo de todo pecador, para que nele a esperança tome o lugar da
angústia.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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