Reflexão do Evangelho de Quinta-feira – 13 de Março

Reflexão do Evangelho de Quinta-feira – 13 de Março
Mt 7, 7-12: Confiar no Pai - Pedi e vos será dado

         A própria angústia do homem, suscitada pela certeza de sua morte, exprime seu desejo de felicidade e de superação. S. Irineu exclama: “Uma vida sem eternidade é indigna do nome de vida. Verdadeira é unicamente a vida eterna”. Deveras, ambicionamos aceder ao que nos transcende, elevando-nos a um nível novo de existência que, para nós cristãos, significa crescer na verdade de nós mesmos, percorrendo o caminho trilhado por Cristo. A solidariedade com Ele, ou melhor, a inclusão nele de toda a humanidade regenerada, qual força interior de esperança, permite-nos vislumbrar a vida nos horizontes da eternidade de Deus. Mas entre Cristo e nós há bem mais do que a simples solidariedade natural, existente entre todos nós. Nós nos encontramos em seu corpo, pois Ele não é um em oposição a nós, Ele é um entre nós. Então, nossa angústia se transforma em esperança não apenas como algo do futuro, mas como o futuro já presente e atuando no agora de nossa vida.
Por conseguinte, a esperança situa-se não apenas no curso visível, traçado pelos acontecimentos narrados pelos historiadores, mas no nível da luta espiritual decisiva que move silenciosamente a história, conferindo-lhe sentido eterno, graças à premissa de que Deus assumiu um corpo próprio. Em Jesus, participamos da luz divina e elevamos nossa prece ao Pai celestial, que vem, graciosamente, ao nosso encontro, conferindo-nos dons para além de nossas expectativas. O Senhor torna sua a nossa prece, a nossa súplica, e o Pai não deixa de atendê-lo, pois diz Ele: “Eu e o Pai somos um só”. Eis o fundamento da confiança no Pai, confiança que nos leva, na oração, aos braços daquele que nos afaga em sua bondade misericordiosa. No silêncio do coração, ouvimos então a parábola, contada pelo Senhor, sobre o amigo importuno, atendido graças à sua perseverante insistência: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis, batei e vos será aberto”. Na atitude filial do discípulo em relação ao Pai, nosso coração bate o compasso da confiança, apresentando súplicas e pedidos. “O Senhor não simplesmente ordena pedir, comenta S, João Crisóstomo, mas quer que as nossas preces sejam fervorosas e perseverantes: eis o sentido da palavra ‘buscai’”.
        Se há dúvidas ou incertezas, elas se dissipam graças às palavras de Jesus: “pedi”, “buscai”, “batei” e sereis atendidos. À incredulidade contrapõem-se a serenidade e a firmeza do divino Mestre, pois a sua misericórdia não tem limite, nada a supera, de tal modo que S. João Clímaco pode afirmar: “Aquele que se desespera se dá a si mesmo a morte”. Sem hesitação e movidos pela fé, batamos à porta do Senhor e dele nos aproximemos, e Ele realizará milagres, transformará os corações endurecidos e pecadores. Em todos habitará a força da vida nova do Ressuscitado. Inverte-se a ordem, e pasmos ousamos confessar: a expectativa já não é nossa, é de Deus, que se coloca no aguardo de nossa resposta à sua graça e ao seu amor, o que dá lugar às palavras de S. Agostinho: “Cada um se examine e dê graças ao doador de todo o bem. Rende-lhe graças, sem deixar de suplicar o que ainda não lhe foi outorgado. Nós nos enriquecemos recebendo, Ele não se empobrece dando”.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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