Reflexão do Evangelho de Terça-feira – 11 de Março
Reflexão do Evangelho
de Terça-feira – 11 de Março
Mt 6, 7-15: A oração
do Pai-Nosso
No tempo de Jesus, a oração formal era
realizada três vezes ao dia, e os rabinos tinham uma para cada ocasião. Jesus é
um homem de oração constante, mas alerta os discípulos contra todo tipo de
formalismo que pudesse conferir um cunho impessoal e mecânico às preces. A
propósito disso, Cromácio de Aquileia nos lembra: “Segundo as palavras do
Mestre, nossa oração não é medida pela prolixidade de palavras, mas pela fé do
coração e pelas obras de justiça”. São Cirilo de Alexandria também refletiu
sobre o assunto: “A loquacidade era chamada de ‘battologia’, palavra
proveniente do nome de um grego chamado Batto, autor de longos hinos, prolixos
e cheios de repetições, em honra dos ídolos. Ao contrário, Jesus ordena orar
com brevidade, sóbria e sucintamente, pois Deus conhece nossas necessidades
antes mesmo que as exponhamos”.
A pedido dos
Apóstolos, Jesus comunica-lhes sua prece filial, a oração do Pai Nosso.
Preciosa herança, conservada pela Igreja, que a transmite, solenemente, por
ocasião do batismo. Ela exorta àquele que é batizado a renovar em seu coração o
santo mistério da oração do Senhor. O Apóstolo São Paulo invoca a “tradição” de
dizê-la na celebração eucarística. O próprio Jesus oferece constantes exemplos
e belos ensinamentos a respeito de uma vida dedicada à oração, característica
essencial dos que desejam entrar no Reino dos Céus.
A tradição não deixa de citá-la. A
Didaqué, ou Doutrina dos Doze Apóstolos (de 60 a 80 d.C.), antes de transcrever
o Pai Nosso, determina: “Assim orareis três vezes ao dia”. A recomendação de
“entregar” esta oração aos catecúmenos, ou seja, àqueles que se preparam para
ser batizados, devidamente comentada é feita por muitos Padres, entre os quais
Tertuliano, São Cirilo de Jerusalém, Santo Agostinho e São Pedro Crisólogo. Ao
comentar o Pai Nosso, São Cipriano, por exemplo, faz importantes recomendações,
entre elas a de lembrarmos que, ao se dizer “santificado seja o vosso nome”,
não estamos santificando o Senhor com nossas orações, “mas pedimos a Ele que o
seu nome seja santificado em nós”.
Desejamos ser uma
proclamação de fé e ter uma vida voltada para Deus, no cumprimento de sua
santíssima Vontade. Deste modo, estaremos santificando o nome de Deus e abrindo
o coração aos nossos semelhantes. De fato, na oração dominical não dizemos
“meu” Pai, mas “nosso” Pai, e suplicamos “nosso” pão de cada dia. Imploramos o
perdão de “nossas” dívidas, assim como perdoamos aos “nossos” devedores (aos
que nos ofenderam). Portanto, ao rezar o Pai Nosso o discípulo de Jesus recorda
que Deus o ama e, mergulhado em sua inefável misericórdia, abandona todo o
egoísmo e se abre à comunhão com os irmãos, no perdão e no amor.
Santo
Agostinho considera que, assim como no Símbolo dos Apóstolos (o Credo) se
professam as verdades da fé cristã, no Pai Nosso se proclama a virtude teologal
da esperança, à qual se segue a caridade: “A confissão de fé está contida
brevemente no símbolo. A oração do Pai Nosso, sob o ponto de vista material, é
alimento dos pequenos. No entanto, contemplada e tratada espiritualmente, ela é
alimento dos fortes, pois permite nascer nos fiéis a nova esperança à qual
acompanha a santa caridade”. Podemos concluir aqui com as palavras do bispo de
Hipona: “Por conseguinte, só a Deus devemos pedir a força espiritual esperada
para fazer o bem e para alcançar o fruto das boas obras”.
Pela oração assídua
do Pai Nosso, será fortalecida nossa comunhão com Deus e com a sua santíssima
vontade. Ela nos conduzirá a tudo esperar de Deus, colocando-nos no serviço
generoso e despretensioso aos nossos semelhantes.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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