Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 14 de Março
Reflexão do Evangelho
de Sexta-feira – 14 de Março
Mt 5, 20-26 - A nova
justiça é superior à antiga
A todas as
proibições, Jesus antepõe a virtude do amor fraterno. Por isso, de modo enfático,
Ele proclama: “Não matarás, aquele que matar terá de responder em juízo”. Para o
Senhor, é impensável tirar, de modo voluntário, a vida de alguém, primariamente,
pelo fato de ele estar agindo contra o próprio Deus, “à imagem e semelhança do
qual” todo ser humano foi criado. S. Gregório de Nissa dirá que o ser humano é
“imagem viva de Deus”, não apenas enquanto ser espiritual, mas também em seu
ser corpóreo. No seu todo, como ser único e indiviso, ele é um retrato de Deus,
de modo que, através de sua grandeza e dignidade, refletida de modo pleno em
Jesus Cristo, pode-se entrever a face humana de Deus. Criado por Deus, o homem
é conduzido, por uma ação paciente e constante, a assemelhar-se àquele à imagem
do qual ele foi criado, isto é, o Verbo encarnado, Jesus Cristo, nas palavras
de S. Irineu. O homem, então, é impelido a elevar o seu pensar e o seu agir à
beleza e à harmonia do mistério da vida, cuja grandeza está em assumir a
responsabilidade e o verdadeiro amor a si e ao próximo.
Consequentemente,
o ato de matar é também um ato contra a dignidade da pessoa humana. Quem mata é
movido pelo desejo de “apoderar-se do que é de Deus, sem Deus”, destruindo a fraternidade
humana, realidade valiosa, porta de entrada da graça divina. Quem o faz, abala
as bases da vida humana em sociedade. O pecado não é exacerbado, mas é situado
no plano primário de Deus, que consiste em restaurar o homem e levá-lo à
comunhão fraterna. O amor, a paciência e o perdão, dons divinos, dilatam o seu
coração e ele passa a compreender, em seu íntimo, que mesmo “quem se
encolerizar contra o seu irmão, terá de responder em juízo” (v.22).
Para
além do crime e do castigo, o olhar de Jesus alcança a intenção oculta no
coração humano, sede do pecado que, semelhante a uma semente, cresce e se
desenvolve, a pouco e pouco, a menos que não seja superado e destruído pela
graça de Deus, fogo divino, que penetrando o seu coração purifica-o de seus vícios
e estabelece a vitória do amor e da força vivificante de Deus. É o próprio
Mestre, que, de modo direto e compassivo, nos conduz à fonte originária da vida
cristã, a caridade. A todos, Ele concede o antídoto contra o pecado: a
misericórdia, a bondade e a paciência, nascidas de um coração pleno de amor e
de perdão. O contrário, tirar a vida de alguém ou se encolerizar contra um
irmão, torna-se inimaginável. S. Agostinho dirá: “Vivamos o amor e façamos o
que quiser”. Pois quem ama jamais ofenderá o irmão e não deixará de
corresponder às exigências do Evangelho. S. João Crisóstomo exclama: “Ó
admirável bondade de Deus! Ó amor, que vai além de nossos pensamentos! Ele descuida
da honra que lhe é devida, para salvar a caridade que devemos ter para com o
próximo. Ele mostra que as advertências, apenas pronunciadas, não se originam
da aversão e muito menos do desejo de punir, mas do imenso amor que ele nutre
pelos homens”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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