Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 05 de Março
Reflexão do Evangelho
de Quarta-feira – 05 de Março
Mt 6, 1-6.16-18: A
esmola em segredo
Inicia-se
com a quarta-feira de cinzas a Quaresma, que se estende até à Páscoa. Espaço de
tempo dedicado, inicialmente, à preparação para o batismo, tempo de
transformação e de conversão, que, mais tarde, foi assumido por toda a Igreja,
despertando em nós a convicção de que o fato de se tornar cristão é um processo
que compreende toda a nossa vida. O Evangelho mostra-nos como se processa esta
caminhada. Já para os judeus, a oração, o jejum e a vigilância eram as colunas mestras
da vida religiosa e constituíam os sinais característicos da pessoa piedosa. Porém,
no tempo de Jesus, muitos os praticavam com o simples intuito de se mostrarem
justos, sem um correlato interior. Era pura ostentação. Para Jesus, a verdadeira
piedade é mais do que parecer bom ou santo. Na paciência do amor, ele adverte:
“Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos
por eles”. Ao invés, para evitar uma piedade puramente formal, ele aponta como
referência essencial de suas ações: Deus e os irmãos.
Por isso, para os
discípulos, a vanglória ou a vaidade, jamais serão parâmetros de suas
atividades. Nas obras realizadas por eles resplandecerá a glória de Deus, pois o
que fazem é diante de Deus e não para serem vistos pelos homens. Comenta S.
João Crisóstomo, referindo-se às palavras do Senhor sobre a esmola: “Uma pessoa
pode de fato dar esmola diante dos homens, sem ter a intenção de ser vista.
Como também pode dar esmola em segredo, mas desejando ser vista pelos homens.
Por isso o Senhor não considera só o ato de dar esmola em si mesmo, mas
acrescenta a vontade presente no ato de dá-la. O que conta mesmo é a vontade
que acarreta punição ou recompensa”. A questão crucial é a liberdade optativa
que, graças ao exercício do querer reto, justo e puro, provoca o movimento da
vontade no caminho da perfeição.
Nesse sentido, S.
Gregório de Nissa pergunta: “Desejas uma glória imortal? Mostra tua vida, no
segredo, àquele que é suficientemente poderoso para proporcionar a glória que
desejas. Tens medo de uma vergonha eterna? Tema aquele que manifestará tua
vergonha, no Dia do Julgamento”. Escreve um autor anônimo, nos primeiros anos
da vida da Igreja: “Deus reside no segredo do coração e não num lugar secreto.
É o próprio Deus que revela o bem realizado nesta vida e na outra glorificará
quem o fez, pois a glória é de Deus”.
Por
conseguinte, as exortações e recomendações do Senhor têm um objetivo preciso:
conduzir os discípulos à comunhão com Deus para viverem, na gratuidade, uma
vida escondida no mistério do amor divino. Pois é no silêncio da alma, “no
segredo do coração”, que nos encontramos com o Filho unigênito do Pai eterno,
no qual vivemos e, realmente, rezamos, jejuamos e damos esmola. Movem-nos uma
fé viva, uma esperança firme e uma caridade ardente, sobretudo, como proclama o
lema da Campanha da Fraternidade, vivendo a “fraternidade e”, abominando, “o
tráfico humano”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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