Reflexão do Evangelho de Terça-feira – 18 de Março

Reflexão do Evangelho de Terça-feira – 18 de Março
Mt 23, 1-12: Hipocrisia e vaidade dos fariseus

         Não tendo em vista louvar a Deus, mas sim o fato de serem reconhecidos e exaltados pelo povo, os fariseus mostram-se cumpridores do ideal do judeu observante. Anima-os a vaidade de aparecer e, por agirem em desacordo com o que pregam, são denominados hipócritas, pois seguem a letra da Lei, mas não o seu espírito. Por isso, diante dos ensinamentos de Jesus, que refletem simplicidade e um modo compreensivo de interpretar a Lei, eles o rechaçam e se desviam de uma reta compreensão de suas palavras. Permanecem presos a uma interpretação casuística da Lei. Apesar das recriminações, Jesus não recua, porque deseja libertar seus ouvintes da visão de um Deus “déspota”, que escraviza e tolhe a alegria da vida, sem jamais resvalar em uma religião do “ópio”, que amorteceria o sofrimento e a humilhação dos pequenos com falsas promessas.
         Em outra ocasião, os herodianos, saduceus e escribas já tinham sido confundidos, agora, é a vez dos fariseus, em seu papel de chefes do povo. A multidão e os discípulos, que permaneciam fiéis ao Mestre, escutavam-no com prazer. A eles, Ele se dirige com o objetivo de instruí-los, exortando-os a evitar o duplo perigo da vaidade e da hipocrisia, opondo-se diretamente ao farisaísmo histórico, sem deixar também de atingir os que alimentavam uma sabedoria orgulhosa e um idealismo altivo, que menosprezava a fragilidade humana. Mas, suscitando a humildade e a simplicidade, Ele os induz a compreender que tudo vem de Deus, do qual deriva a verdade que liberta e à qual, todos são chamados a viver. Ninguém pode reclamar lugares de poder, nem de controle sobre os demais, pois todos são atraídos por uma vida nova, uma alegria plena, que declara o fim do casuísmo e dos pesados fardos impostos pelos fariseus.
O próprio Jesus, não se prendendo excessivamente à prática exterior da Lei, lança um vivo apelo à conversão (metánoia) e à esperança na vivência interior da fé e da caridade, que torna todos iguais, no coração. Urge passar do pecado à virtude, do erro à verdade, porque diz Ele, em consonância com as palavras da Lei: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício”. Ouvindo-o, muitos de seus seguidores se convertem e, pelo poder invencível da graça, dão uma nova orientação às suas vidas e não mais permanecem voltados para si mesmos, buscando as glórias humanas, mas trilham, graças ao Espírito Santo, o caminho da fé e da liberdade no amor a Deus. Livres das paixões, eles movem-se para Deus e, com todo o seu anelo, alcançam a serenidade interior, caminho para a sua ressurreição, na feliz eternidade do Pai. Porém, alerta Jesus, a fé só é autêntica quando passa do coração às mãos, graças à prática do bem e da caridade.  O autor alexandrino Orígenes, referindo-se às palavras dirigidas a Moisés, citadas pelos fariseus, insiste: “Os verdadeiros discípulos de Jesus ligam a Lei de Deus à mão, no sentido espiritual, pela prática das boas obras e, vivendo os divinos preceitos, mediante a meditação das disciplinas divinas, jamais fazem deles penduricalhos diante dos olhos de sua alma”. Ele se reporta ao fato de os fariseus escreverem o Decálogo da Lei em finos pergaminhos, que eram dobrados e atados em suas frontes, sob a forma de uma coroa. Desse modo, tendo sempre os mandamentos diante dos olhos, eles julgavam cumpridas as palavras do Senhor.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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