Reflexão do Evangelho de Domingo – 16 de Março

Reflexão do Evangelho de Domingo – 16 de Março
Mt 17, 1-9 - Transfiguração do Senhor
        
          A fonte de inspiração e a referência essencial de nossa vida cristã é nossa solidariedade com Jesus, melhor, a inclusão nele de toda a humanidade regenerada. Assim, seus mistérios, como a Transfiguração, não deixam de ter um significado para nós. Se à transfiguração liga-se a Paixão, anunciada por Jesus aos Apóstolos, logo após descer do monte Tabor, ela evidencia, particularmente, a sua divindade. “A transfiguração aponta, observa S. Beda, de maneira simbólica, para algo além dela mesma, conduzindo-nos até à ressurreição final”. 
Sujeitos à morte, à dor e ao sofrimento, desde o princípio de nossa existência, nós participamos da obra redentora, realizada por Jesus, que nele se torna nossa reconciliação com o Pai. Em sua Encarnação, Jesus assumiu nossa humanidade, na qual se inclui a morte como fim inelutável. Mas Ele a vence, tanto a morte física como a morte do pecado, vitória definitiva do primeiro de todos os homens e primícias de todos os outros. Ele é a causa exemplar de nossa ressurreição, vislumbrada na Transfiguração e revelada em suas aparições, após a Ressurreição. No dizer de S. Gregório de Nissa, nós somos o espelho no qual se reflete a única e perfeita imagem que é Cristo. Por isso, em sua humanidade, ele deixa transparecer o que cada ser humano pode e deve se tornar futuramente, o que faz da Transfiguração um momento sublime da certeza de que o homem, caído em Adão, em Cristo se reergueu. A única exigência é que seus discípulos compreendam o benefício de crer sem ter visto e, assim, possam sentir a grandeza de sua glória, da qual já participam. “Ele se manifesta aos filhos da luz, reflete Orígenes, que abandonaram as obras das trevas e se revestiram das armas da luz, pois eles tornam-se filhos do dia e andam honestamente como de dia”.
         O Deus-Homem, em quem habita a plenitude da divindade e a luz divina se concentra plenamente, anseia em partilhá-las conosco. No alto da montanha, lugar privilegiado do desvendamento de Deus, contemplando a face do Cristo transfigurado, os Apóstolos se sentem inebriados e, pasmos, querendo perpetuar aquele momento, exclamam: “Façamos três tendas”. Pois, diante deles, encontra-se Jesus falando com Moisés, o grande legislador de Israel, e com Elias, o maior dos profetas.
 Sua humanidade, no contato com os Apóstolos, longe de se evaporar na sua glória, permite que eles contemplem a luz eterna de sua divindade e compreendam que o ser humano, desde a sua queda, é chamado a se reerguer, sendo já misteriosamente vencedor dele mesmo na vitória de Cristo. Pois se Jesus é o Messias humilhado e sofredor, Ele não deixa de ser também o Filho do homem triunfante que conduz todos ao Reino misericordioso do Pai.  Realidade consoladora e confortante, que leva o Apóstolo Pedro a exclamar: “Rabi, é bom estarmos aqui”. Experiência de união mística com Deus, pois “se o corpo deve tomar parte, com a alma, dos bens inefáveis no século futuro, escreve S. Gregório Palamas, é certo que também deles deve participar, na medida do possível, desde já”. Eis as primícias da manifestação final, quando Deus será tudo em todos! Graças à misericórdia divina, os corpos dos bem-aventurados, na medida de sua fé e de suas obras, de sua esperança e de sua caridade, tornar-se-ão semelhantes ao corpo glorioso do Senhor.  
         Portando, a Transfiguração impele-nos a buscar Jesus, com fé e reverência. No alto do monte Tabor, voltando-se para nós, ele engalana-se de luz e prenuncia nosso estado glorioso no céu, onde o brilho da alma, na comunhão com Deus, tornará nossos corpos ressuscitados “gloriosos”, livres dos incômodos terrestres e participantes da glória de Deus. Então, realizam-se as palavras do Apóstolo: “Cristo em vós, esperança da Glória” (Col 1,27).


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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