Reflexão do Evangelho de Domingo – 30 de março e segunda-feira - 31 de março

Reflexão do Evangelho de Domingo – 30 de março e segunda-feira - 31 de março
Jo 9, 1- 41: Cura do cego de nascença
        
         O que seria pior, a cegueira física ou a cegueira moral e espiritual? O pecado fecha a mente e o coração ao amor e à verdade de Deus. No final do texto, Jesus se volta para os fariseus que permanecem em sua cegueira interior e lhes diz: “Se fôsseis cegos não teríeis culpa; mas porque dizeis: Nós vemos! Vosso pecado permanece”. O percurso feito pelo cego de nascença diverge do caminho seguido pelos fariseus: o cego chega a ver sensivelmente Jesus, os fariseus não logram vê-lo realmente, veem Jesus fisica, mas não espiritualmente.
O verbo ver tem sentidos diversos. Seu principal significado, forte e profundo, evidencia-se no diálogo de Jesus com o apóstolo Felipe. “Senhor, pede-lhe Felipe, mostra-nos o Pai e isto nos basta! Responde-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e tu não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Não crês que eu estou no Pai e o Pai está em mim?” (14,8s). Portanto, existe um ver material e, igualmente, um ver espiritual, que permite aderir à fé e, por força dela, à mensagem de Cristo.
Há ainda outro sentido, diríamos intermediário, para o verbo ver: ver as obras, os prodígios de Jesus, e, em consequência, crer nele, embora S. João acentue, em outras passagens, que a fé autêntica alimenta-se unicamente da Palavra.  Fato atestado no encontro com a samaritana, como também na aparição de Jesus a Tomé, após a ressurreição: “Tu creste, diz Jesus a Tomé, porque viste. Bem-aventurados os que creem sem ter visto!” (20,29).
Com os olhos interiores besuntados e adormecidos, os fariseus irão procurar desacreditar Jesus e, não querendo se render ao milagre da cura do cego de nascença, pressionam seus pais para que neguem os fatos, chegando a ofender, insultar e expulsar aquele que tinha sido curado. Ao invés, o cego de nascença, gradativamente, fortalece-se na fé, e enxerga, sempre melhor, quem é Jesus. Se no início, ele o denomina um profeta ou enviado de Deus, no final, ele declara ser Jesus o Filho do Homem. Há assim um crescimento na fé, que culmina em verdadeira confissão de fé, expressa em seu testemunho, tão bem sublinhado pelo evangelista. No modo simples de apresentar sua cura, o cego declara que ninguém é dono ou proprietário da vida; todos são impelidos a se empenhar, a dar o melhor de si mesmos, para acolher na gratuidade o mistério do amor insondável de Deus. Nessa disponibilidade, fruto de esforço ativo e diligente, ele experimenta a mão bondosa do Messias, tocando-o e curando-o. 
         O desfecho deste episódio é apresentado nos versículos finais, que esboçam o “julgamento”, que cada um provoca pela sua incredulidade ou por sua profissão de fé. O cego vê Jesus com seus olhos corporais e o reconhece em seu coração, enquanto os fariseus permanecem em sua cegueira espiritual, apegados ao sistema do qual se consideram donos. Autossuficientes, eles não entendem que se trata de mudança, de conversão. Para eles, é uma verdadeira revolução. Daí rejeitarem tudo quanto questionava seu modo de viver e o seu pretenso saber. A presença do cego os incomoda. Ora, ao ver corporalmente, o cego contempla no seu coração, o que lhe permite chegar à fé e, com ela, à verdade comunicada por Jesus. Por esse motivo, ao ser perguntado se acreditava no Filho do homem, ele interroga: “Quem é, para que eu acredite nele”. “Tu o estás vendo: é o que está falando contigo”, responde Jesus. Então, o que era cego exclama: “Creio Senhor, e prostrou-se diante dele”.   Adorando-o, ele confessa que o inesperado de Deus ultrapassou todas as suas possibilidades.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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