Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 19 de Março
Reflexão do Evangelho
de Quarta-feira – 19 de Março
Mt 1, 18-24: Esposo
de Maria e Pai adotivo de Jesus
Na plenitude dos
tempos, o Filho de Deus se encarnou no seio puríssimo da Virgem Maria. O Antigo
Testamento orienta-se para Jesus, as esperanças e promessas de Israel nele se
cumprem. Nesse sentido, S. Mateus desenvolve a história da infância de Jesus e
os inícios de seu ministério. Destaca que Jesus é filho de Davi e de Abraão, o
que permite ser o evangelho de Mateus profundamente judeu em suas concepções e,
ao mesmo tempo, ser uma rigorosa interpretação missionária e universalista do
cristianismo. Nesse sentido, a árvore genealógica, descrita por ele, conduz a
José, da família de Davi, sem deixar de realçar que o reino de Jesus vai muito
além das promessas feitas a Davi: é o reino do próprio Deus. Ademais, ao fundar
o novo povo de Deus, erigido sobre os Apóstolos, Ele concretiza as promessas
feitas aos patriarcas.
O
Papa Bento XVI assinala que “se Deus está presente entre nós, são de essencial
importância também os portadores humanos da promessa: José e Maria. Se José
representa a fidelidade de Deus em relação a Israel, Maria representa a
esperança da humanidade. José é pai segundo o direito, mas Maria é mãe com o
seu próprio corpo: dela depende que Deus se tenha tornado verdadeiramente um de
nós”. A figura de José, silenciosa, revela grandeza de alma e fidelidade aos
planos de Deus. Ao ver Maria grávida, José, homem justo, longe de condená-la,
guarda respeitoso segredo, o que leva S. Jerônimo, com sua habitual
profundidade religiosa, a comentar: “Como pode José ser declarado ‘justo’, se
ele escondeu a falta de sua esposa? Longe disso. É um testemunho em favor de
Maria. José conhecendo sua castidade e tocado pelo que lhe sucede, esconde, por
seu silêncio, o acontecimento do qual ele ignora o mistério”. De modo sucinto,
mas direto, S. Jerônimo ressalta a atitude espiritual, quase mística, de S.
José. Diante do fato inexplicável da concepção, ele reconhece e respeita o
Mistério prenunciado: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o
chamarão com o nome de Emanuel”.
Com
efeito, José estranha o silêncio da sua desposada, mas não se julga autorizado
a levantar o véu do mistério que Maria esconde. Certamente, seus olhos refletem
a fadiga das noites que passa angustiado e sem dormir. Mas continua a guardar o
silêncio e eis que já nos limites da desolação, pensando em deixá-la,
apareceu-lhe em sonho um Anjo do Senhor e lhe disse: “José, filho de Davi, não
temas receber em tua casa Maria, tua esposa, pois o que nela foi concebido é
obra do Espírito Santo”. O simples carpinteiro de uma pequena aldeia de Nazaré
é tratado como descendente de reis. Com razão, S. Mateus o denomina justo, no
sentido bíblico, por ter seu coração aberto à vontade de Deus, o que lhe
possibilita ouvir o silêncio do mistério, presença do absolutamente Outro, voz
a sussurrar no sacrário de sua consciência. Despertando, ele não alimenta
dúvida, mas traz a certeza de que não estivera simplesmente sonhando, mas o que
acabara de ouvir era mensagem de Deus. Alegria transbordante, que ultrapassa de
longe a angústia que sentira antes. Dissipam-se as sombras e ele se rejubila e
exulta. A obscuridade do seu sim se torna grandiosa, na ressonância do “fiat”
de Maria, pois a árvore do paraíso cresceu no seio de sua esposa. “Sua sombra
abriga o mundo inteiro, e ela oferece seus frutos, longe e perto” (S. Efrém).
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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