Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 26 de Março
Reflexão do Evangelho de Quarta-feira –
26 de Março
Mt 5, 17-19 - Cumprimento da Lei
Jesus acaba de
falar das “boas obras” e da obediência ao Pai. Para os fariseus, a frutuosa
resposta à vontade do Pai seria o cumprimento da Lei entregue a Moisés no
Sinai. No entanto, eles exacerbavam a submissão à Lei, de tal modo que a
liberdade, sem vínculos significativos e espirituais, assumia feições de
escravidão. Para o Senhor, ao contrário, o pressuposto sempre foi a ação livre,
jamais admitindo o determinismo no agir, que diluiria a responsabilidade
pessoal. Por isso, de modo solene, “em verdade vos digo”, Jesus expõe seu
posicionamento em relação à Lei, aos Profetas e, por conseguinte, em relação a
todo o Antigo Testamento.
Postulando aos
ouvintes que acolhessem o Reino de Deus, o Senhor diz ter vindo em nome do Pai
para cumprir uma missão, que consiste não em ab-rogar a Lei, mas em cumpri-la.
A Lei e os Profetas atingem em Jesus sua realização plena, sua expressão mais
perfeita, como assinala S. Hilário de Poitiers ao dizer: “Ele proclama, de modo
claro e vigoroso, que a obra da Lei é superada. Ele não a abole, mas a supera
com um aperfeiçoamento progressivo. Nesse sentido, Jesus declara que os
Apóstolos só entrarão no Reino dos Céus caso superem a justiça dos fariseus. E,
após expor as prescrições da Lei, ele as supera aperfeiçoando-as, sem
aboli-las”.
Aos discípulos
Ele alerta para não se deixarem levar por uma compreensão muito estrita da Lei.
Também os acautela contra o extremo oposto: julgar que o Evangelho os dispensasse
da Lei. Para além de sua “letra”, a Lei é confirmada, não abolida. Ela é
transformada e interiorizada, tornando-se ainda mais exigente. Dirá S. Antônio
de Pádua: “A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os
discursos e falem as obras”. S. Agostinho exclama: “Ama e faze o que queres.
Ama! Equipara tua vontade àquela do Amado: fazer o que queres será fazer o que
Ele quer!”
Como os fariseus, a visão dos Apóstolos
estava encoberta e seus corações obscurecidos. O Mestre retira o “véu”, que os
encobre, e conduz os Apóstolos ao alto do monte Tabor, onde maravilhados, eles
contemplam a glória do Filho de Deus e participam da luz divina. O esplendor do
amor divino ilumina seus corações e lhes é dado compreender o sentido do
Evangelho do Reino de Deus. Eles jamais deixarão de anunciá-lo, explicando que
a catequese cristã repousa sobre os “testemunhos” do Antigo Testamento, que
encontram todo seu sentido na obra e no ensinamento de Jesus. Assim, o
evangelista S. Mateus nos conduz a contemplar a paixão e a ressurreição como
realização plena da entrada na Terra prometida definitiva. E nós, desde já, inflamados
com as línguas de fogo, que são os louvores divinos, anunciaremos o Evangelho
do amor e da paz.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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