Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 07 de Março

Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 07 de Março
Mt 9, 14-15 – Discurso sobre o jejum
                  
         Os discípulos de João Batista e os fariseus multiplicam jejuns e orações, apesar de os profetas terem insistido menos sobre a severidade do jejum e muito mais sobre a conduta justa e caritativa para com o próximo. Em Jesus a voz dos profetas se plenifica. Embora jejue por quarenta dias, Jesus sugere uma mudança, senão um novo relacionamento com Deus e com o mundo. A prática do jejum compreende atos e atitudes que, acompanhados pela oração, servem para traduzir a humildade, o amor e a esperança do homem. O próprio Senhor, em seu jejum, declara que “o homem não vive só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Jejua-se não por desprezo ao alimento, considerado dom de Deus, mas para expressar sua dependência de Deus e a doação de sua vida em favor dos irmãos. Gesto religioso, o jejum assinala a intenção real de acolher a presença de Deus e se pôr diante dele. Por isso, justamente por causa da presença do Senhor entre eles, os discípulos não jejuam, embora Ele não deixe de insistir no desapego das riquezas (Mt 19,21) e em renunciar-se a si mesmo para levar a cruz (Mt 10,38s).
            Jesus apresenta-se como o “noivo” das núpcias de Deus com o seu povo. Os discípulos são descritos como os amigos do noivo. Jesus pergunta aos que o rodeiam: “Podem os amigos do noivo jejuar        enquanto o noivo está com eles?” Eles não são obrigados a jejuar, acentua S. Hiláro de Poitiers, “pois o fato de não jejuar demonstra a alegria dos discípulos com a presença de Jesus. Nesse período, não se há de jejuar, porque o Esposo está lá e com Ele o tempo messiânico, tempo de núpcias, de abundância e de alegria”. Mas ao dizer: “quando Ele lhes for tirado”, Jesus evoca a sua morte, também a sua ascensão, então eles jejuarão, no dizer de S. Basílio Magno, “para proclamar que suas vidas estão orientadas para as realidades que ultrapassam os bens simplesmente materiais e carnais” ou como proclama o prefácio da quaresma: “Pelo jejum elevais os vossos sentimentos”. O olhar deles estará voltado à contemplação de Deus, devendo, no entanto, desde já, saciar uma fome diferente, a fome da bondade e da misericórdia, do perdão e do amor.
           Por conseguinte, ao lado dos atos de caráter comunitário não se nega o valor de cultivar a sua interioridade, expresso na prática do jejum, que torna o discípulo mais leve e o seu coração ardente de amor a Deus e ao próximo. Para que nos tornemos sempre mais cristãos, Orígenes remete-nos ao fundo de nossa alma, “onde se encontra a imagem de Deus escondida. Cabe-nos liberá-la da terra e purificá-la de toda sujeira para encontrarmos a água viva, aquela água da qual diz o Senhor: “Quem crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,38). Certa vez, o abade Pambo interrogou o abade Antônio: “O que devo fazer? O ancião lhe disse: não confies na tua justiça, não te aflijas com o passado, mas ponhas freio à tua língua e ao teu ventre”.  


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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