Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 17 de Março

Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 17 de Março
Lc 6, 36-38 - Misericórdia e gratuidade
        
         Deus morre para que o homem viva ou, no dizer de S. Paulo: “eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). O seguidor de Jesus compreende que aceitar a salvação é transformar a morte e todas as formas de morte em passagem para a vida. Por isso, deixando-se iluminar por Cristo, ele não mais vaga na incerteza de sua sorte ou na timidez de um destino desconhecido. Em sua vida reina a benevolência divina, que o leva a cantar, com Francisco de Assis, glórias e louvores ao “grande e magnífico Deus”.
O homem não inventa Deus para consolar-se, mas evidencia que sua vida espiritual provém do alto e, harmonizando-se numa só inspiração com S. Francisco, ele atualiza a surpresa do filho pródigo no encontro com o Pai, que perdoa, abraça e reconcilia, e, em seu coração, ele ouve as palavras de Jesus: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso”. A fratura do seu ser criado transforma-se em fonte de alegria e ele experimenta algo maravilhoso: sua purificação interior. Momento de fé e de divina ternura, que lhe permite saborear a doçura da presença amorosa de Deus, envolvendo seu ser e conduzindo-o à intimidade de vida com o Pai. Nada lhe é exigido, a não ser amar a Deus, que no seu agir gratuito, generoso e dadivoso, ama-o em sua misericordiosa benevolência.   
        Na suavidade do afago divino, o homem é impelido a servir, gratuitamente, os seus irmãos e irmãs, deixando-se orientar pelas palavras do Mestre: “Não julgueis, para não serdes julgados”, pois não lhe cabe julgar sobre a salvação eterna do seu irmão. Guiado pelo Mestre, seu agir com os injustos, não difere do modo como age com os justos. O desejo de poder ou de dominação não prevalecerá em sua vida, guiada pela misericórdia divina, que o leva a abraçar, igualmente, santos e pecadores. É o florescimento do amor fraterno, dispondo-o a fazer o bem aos que o perseguem e a amar como Deus o ama. Então, declara Orígenes, “os traços da imagem divina estarão impressos em seus atos de misericórdia”.
         Se na grandeza do amor, o homem encontra o segredo da verdadeira e interminável vida, na gratuidade da bondade divina, no encontro com o Senhor, ele é liberto da angústia e confessa que a morte não é o seu último destino. Dá-se nele, diria S. Gregório de Nazianzo, “o milagre, não da criação, mas sim da recriação, pois ‘quem tem o Filho tem a vida’”. Ele transmite júbilo e canta a benevolência divina, força capaz de lhe restituir a verdadeira humanidade, confessando, como S. Agostinho: “Eu serei poupado do castigo e das faltas cometidas, duas coisas que o Senhor compendiou na breve máxima: perdoai e vos será perdoado; dai e vos será dado”. Na poesia do êxtase, ele participa da gratuidade da verdadeira vida e louva a misericórdia divina, que, sanando e renovando a sua natureza, brota em sua vida como fonte de virtudes verdadeiramente humanas.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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