Reflexão do Evangelho de Quinta-feira 10 de setembro
Reflexão do Evangelho
de Quinta-feira 10 de setembro
Lc 6,27-38 – Amor aos
inimigos
Oculto em sua
humanidade, o Filho de Deus não só se dá a conhecer como “suprema epifania” do
amor incomensurável de Deus, mas também nos inclui em sua vida humano-divina. Nele,
amamos a Deus e, no mesmo amor concedido a nós por Ele, amamos o próximo. Eis a
chave da nossa esperança, com a qual abrimos a porta do nosso coração para entrever
o novo horizonte do povo de Israel, renovado por Jesus. Sem negar a afetividade
(éros) força natural para o bem, vivemos
o amor-doação (ágape), que confere
asas à alma e a eleva ao belo e ao desejo da felicidade eterna. Com efeito, a
comunhão em Deus, além de superar todas as fronteiras de raça e de preconceitos,
torna o éros, força presente no
coração humano, e o amor divino (ágape),
conaturais à condição humana.
Por
isso, sem qualquer receio, os primeiros cristãos proclamam a total
compatibilidade do eros e do ágape, colocando-os no interior do
mistério da salvação. Em outras palavras, embora não deixem de assinalar a
degeneração do eros em práticas
religiosas ou cultos idolátricos, não para negá-lo, mas para propor a sua
purificação, eles acentuam a unidade do amor presente na criação e na história
da salvação. Nesse sentido, grande foi o mérito de Orígenes, que destaca, na
interpretação do Cântico dos Cânticos, a acepção mística e espiritual do eros, ao estabelecer as relações
Logos-alma, Cristo-Igreja. A mesma unidade encontra-se no pseudo Dionísio
Areopagita, ao referir-se à Bondade e à Beleza: “O que é Belo e Bom, diz ele, é
desejável (erastón), apetecível e
amável (agapetón)”.
A visão unitária do
amor exige que se viva a comunhão com os membros da família ou da própria raça,
mas também com todos os homens, mesmo, com os próprios inimigos. O amor, fogo
do céu, reduz às cinzas o pecado e transporta o homem, para além da fé e da
esperança, que hão de passar, ao sabor espiritual do amor divino: amor não
possessivo, impregnado de respeito e de afeto desinteressado. Realizam-se então
as palavras de Jesus: “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. Se
do ponto de vista meramente humano, alguém julgasse ser impossível efetivar
semelhante amor, julgando-o inacessível, diríamos: o amor não provém apenas do
alto, sem vínculos com a realidade humana, pois o eros, amor do homem ao bem e à beleza não se separa do ágape, do amor
salvador de Deus, que é o nosso Criador. Por consequência, no encontro com
nossos irmãos, nós não vemos o mal que o outro nos faz, mas sim o mal presente em
sua vida, prejudicando-o e afastando-o de Deus. E na prática do bem, esforçamo-nos
para que ele se volte para o Senhor e caminhe de acordo com os divinos
ensinamentos. Nós os amamos.
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