Reflexão do Evangelho - Sexta-feira 04 de setembro
Reflexão do Evangelho -
Sexta-feira 04 de setembro
Lc 5,33-39 - Discurso
sobre o jejum
Apesar de os profetas terem insistido menos sobre a severidade do jejum
e muito mais sobre a conduta justa e caritativa para com o próximo, os
discípulos de João Batista e os fariseus multiplicavam jejuns e orações. Em
Jesus a voz dos profetas se plenifica. Num horizonte mais amplo, Ele mostra que
a sorte do mundo e o destino do homem estão intimamente unidos; a
transfiguração do homem indica que a figura deste mundo passará, mas ele não
será destruído, será purificado, tornar-se-á melhor. É a verdadeira criação de
Deus: o mundo adquirirá novas qualidades de acordo com as qualidades do homem
ressuscitado. Nesse sentido, o jejum passa a significar uma renovação do homem
e do mundo, de tal modo que, deixando para trás toda tendência à vitimização ou
à teatralização, ele constitui um gesto religioso que prepara o homem para acolher,
de modo incondicional, o Reino como dom gratuito de Deus.
Para uma melhor compreensão, Jesus se apresenta como o “noivo” das
núpcias de Deus com o seu povo, e os discípulos são descritos como os amigos do
noivo. Aos que criticam os Apóstolos por não jejuarem, Jesus, com certa ironia,
pergunta-lhes: “Podem os amigos do noivo jejuar enquanto o noivo está com eles?
” S. Hilário de Poitiers conclui que “o fato de eles não jejuarem demonstra a
alegria dos discípulos com a presença de Jesus. Nesse período, não se há de
jejuar, porque o Esposo está lá e com Ele o tempo messiânico, tempo de núpcias,
de abundância e de alegria”. Mas a observação do Senhor não lhes escapa:
“Quando Ele lhes for tirado, eles jejuarão”. Ou no dizer de S. Basílio Magno: “Eles
então jejuarão, pois suas vidas estarão orientadas para as realidades, que ultrapassam
os bens simplesmente materiais e carnais”. Não só, mas pela prática do jejum,
os discípulos estarão proclamando, em seu corpo particularizado, isto é, em sua
individualidade, a sua participação no corpo transfigurado de Jesus.
Em
outras palavras, o tempo em que vivemos é um tempo messiânico, início de nossa
transfiguração. Com essa intuição luminosa, destacando a continuidade do ser
humano em sua totalidade, corpo e alma, S. Agostinho recorda a uma irmã, que se
sentia desconsolada pela morte de seu irmão: “O amor de teu irmão não pereceu,
pois ele te amou e ele te ama; ele permanece conservado em teu tesouro e
escondido com Cristo no Senhor”. E, mais adiante, ele conclui: “Nós não
perdemos os que emigraram desta vida antes de nós: nós o enviamos à outra vida
onde nós nos reencontraremos, e onde eles serão ainda mais caros a nós do que
são intimamente conhecidos”.
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