Reflexão do Evangelho de Domingo 04 de outubro
Reflexão do Evangelho
de Domingo 04 de outubro
Mc 10,2-12 - Perguntas
sobre o divórcio
Acalorada
era a discussão entre os rabinos sobre o motivo que legitimava o repúdio da
própria mulher. A questão girava ao redor das determinações do Deuteronômio,
cujas expressões eram pouco precisas. Para testar Jesus, os fariseus lhe
perguntam: “É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo que seja? ”.
Os mais rígidos, da escola de Shammai, interpretavam o texto bíblico em seu sentido
estrito: só em caso de uma conduta deveras desonrante. Ou em sentido mais
amplo, escola de Hillel, segundo a qual se podia repudiar a mulher por não
importa qual motivo. A pergunta é capciosa e visa colocar Jesus à prova, no
desejo de arrastá-lo para uma contenda.
Ciente
do que se passa no coração de seus ouvintes, o Senhor situa a questão no quadro
dos desígnios do Pai. Sem negar a Lei, é necessário superá-la não se deixando
limitar por ela ou pela ideia de que Moisés aprovava o divórcio. Ele rejeita a
casuística judaica e, com sabedoria, remete os ouvintes ao gesto inicial da
criação: o amor de Deus, que não permite reduzir o matrimônio a ser apenas um
meio para gerar filhos. Foi por amor que “no princípio Deus os fez homem e
mulher”, e quando se tornam “uma só carne” o dom da unidade se perpetua. O
Senhor não se reporta ao princípio temporal, mas sim ao princípio absoluto e eterno
de nossa eleição em Deus, que nos chama a ser perfeita unidade no amor, pois
sendo amor, escreve S. Gregório de Nissa, Deus colocou, desde a criação, esta
marca em nosso coração. Portanto, situado no interior da teologia bíblica da
aliança, o matrimônio expressa a comunhão íntima de vida e de amor entre os
cônjuges.
Concepção
grandiosa e elevada do matrimônio, que vai além da descrição de uma situação
determinada, e enuncia uma promessa escatológica, para a qual todos caminham. No
entanto, caímos, erramos, existem rupturas em nossa vida. Por isso, a cada
momento somos reenviados à ação misericordiosa de Deus, que nos renova e nos
permite recomeçar o caminho com nova esperança. Neste sentido, a resposta dada
por Jesus, “o que Deus uniu o homem não separe”, não constitui uma norma
jurídica, mas antes um princípio fundamental a ser observado.
O matrimônio,
instituição natural, é enobrecido e elevado por Jesus à dignidade de
sacramento, razão pela qual os primeiros cristãos o realizam na Igreja, diante
do seu ministro: “in facie ecclesiae”,
na expressão de S. Inácio de Antioquia em sua Carta a S. Policarpo. Porém,
nessa perspectiva, uma questão deve ser equacionada. Não se pode negar a
indissolubilidade do matrimônio, símbolo da aliança real de Jesus com a Igreja,
porém, no caso de pecado ou de ruptura, segundo antiga tradição, indica-se a
via penitencial. Esta compreenderia não um novo sacramento, mas uma bênção,
acompanhada não de pesadas penas, mas de uma nova orientação, resultante da conversão
e de um arrependimento sincero.
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