Reflexão do Evangelho de Terça-feira 06 de outubro
Reflexão do Evangelho
de Terça-feira 06 de outubro
Lc 10,38-42 - Marta e
Maria
O texto narra que Jesus
e seus Apóstolos “estavam a caminho”, expressão algumas vezes usada para
indicar a viagem do Senhor a Jerusalém, onde Ele encerraria sua missão na
terra. Por meio de outras informações bíblicas, sabe-se que a casa de Marta e
Maria ficava a cerca de três quilômetros da Cidade Santa. Como mais tarde faria
Zaqueu, em Jericó, Marta recebe Jesus em sua casa. Enquanto ocupava-se do
serviço diário, Maria, sua irmã, permanecia sentada aos pés do Senhor escutando
sua palavra, numa atitude característica dos discípulos, sempre atentos à
palavra do Mestre.
A descrição que Lucas
faz da acolhida de Marta a Jesus desperta em nós o desejo de também recebê-lo
em nossa casa, em nossa vida. O tratamento “Senhor”, usado por Marta, é o mesmo
consagrado pela Igreja, e é como todos os cristãos devem se referir a Ele na
escuta obediente de sua Palavra.
Maria representa os
fiéis, semelhantes a ela, atentos e dóceis às palavras de Jesus. Marta, em meio
aos muitos afazeres, desafoga suas preocupações com o Senhor, a ponto de
reprová-lo: “a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço?
”. A resposta afetuosa de Jesus a alerta para não se inquietar e nem se agitar
tanto, embora o gesto de Marta, que tentava deixar a casa à altura do
visitante, refletisse a delicadeza de uma amizade que pensa jamais ter feito o
suficiente. Porém, Jesus julga propícia a ocasião para alertá-la sobre o que ela
deveria considerar como sendo o mais importante: ouvir a sua Palavra.
“Uma só coisa é necessária e Maria escolheu a
melhor parte”. Esta resposta de Jesus será muito comentada nos primeiros
séculos de vida da Igreja. Santo Efrém não hesita em preferir o amor atuante de
Marta, que arruma a casa para melhor receber o Cristo, ao repouso contemplativo
de Maria, enquanto outros autores estabelecem a superioridade da escuta da
Palavra sobre o trabalho. Orígenes une os dois aspectos quando afirma: “O
segredo do amor será apreendido por aquele que se entrega à ação, com a
condição de ele se aplicar ao mesmo tempo à contemplação, à doutrina e à ação.
Não há ação nem contemplação válidas, uma sem a outra”. Já São João Crisóstomo
reconhece que Jesus respondendo a Marta não censura o trabalho, nem a ação, mas
quer que se considere o tempo: “Pois não se pode preterir o tempo da instrução
espiritual. Advoga-se não o ócio, mas a escuta da palavra. Defende-se a
hospitalidade, sem minimizar o tempo da instrução”.
Eis
a grande lição: a escuta do Evangelho é o tesouro, a pérola, o único bem
necessário ao qual se sacrificam todas as demais ações. Ou, ao menos, deve-se
buscar o equilíbrio entre as duas atitudes, ouvir e agir, como prega Santo
Ambrósio: “Assim, na livre escolha da vocação, a vida ativa e a contemplativa
devem se conjugar, pois se Marta não tivesse escutado a Palavra, ela não teria
assumido o serviço”.
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