Reflexão do Evangelho de segunda-feira 2 de novembro de 2015
Reflexão do Evangelho de segunda-feira 2 de novembro
de 2015
Jo 6,37- 40
- Finados “Saudade sim, tristeza
não!”
Entre os primeiros cristãos, havia o costume de rezar pelos mortos
e de celebrar, como atestam os sacramentários romanos, a missa de corpo
presente por ocasião do falecimento de um deles. Quando isso não era possível,
devido às perseguições, celebrava-se mais tarde, dando origem às missas de
sétimo e trigésimo dia.
Nesse mesmo período, iniciou-se a prática, presente ainda em
nossos dias, de fazer a memória dos mortos e dos vivos nas celebrações
eucarísticas. Seus nomes eram então guardados em registros denominados Libri
Vitae (Livros da Vida), posteriormente designados necrologias e obituários,
passando das menções generalizadas às individuais. Com o passar do tempo, consolidou-se
uma preocupação: a lembrança de todos os demais falecidos que, por algum
motivo, não constavam nas listas. Para preencher esta lacuna, decidiu-se
estabelecer um dia do ano para se rezar na intenção litúrgica de todos os que
passaram desta vida. Por volta dos anos 1.024 e 1.033, foi escolhido, como dia
consagrado à oração pública e universal por todos os falecidos, o dia 2 de
novembro, o tão conhecido Dia de Finados, por ser o dia litúrgico que se segue
à festa de Todos os Santos.
Desde o início, o conteúdo principal da celebração não era a morte,
mas sim a fé na Ressurreição e, consequentemente, a esperança de se estar um
dia perante Deus em sua morada. A celebração do dia de Finados antecipa a vida feliz
e eterna em Deus. Agradece-se a Deus a existência dos antepassados e acende-se
uma vela, proferindo uma oração, para recordar a luz da fé que nos iluminou,
através de nossos pais, avós, parentes e amigos. Luz que não se extinguiu com a
passagem deles para a eternidade de Deus, mas que se perpetua em nossos
corações. As flores depositadas em suas sepulturas prenunciam o alegre
reencontro na ressurreição dos mortos.
No
Dia de Finados, rezamos não aos mortos, mas pelos mortos, pois todos, os vivos
e falecidos, participam da comunhão dos Santos, comunhão que jamais se desfaz. Nesse
sentido, escreve S. Ambrósio: “Para não ser de novo a morte o fim da natureza
humana, foi-lhe dada a ressurreição dos mortos. Assim, refulge em nossos corpos
a morte de Cristo, aquela ditosa pela qual se destrói o ser exterior, a fim de
ser renovado nosso homem interior e se desfaça nossa habitação terrena,
abrindo-se para nós a habitação celeste”. É a ressurreição na morte, encontro
pessoal com Deus e com os irmãos; é uma nova existência corporal, que nos
permite aguardar, na serena alegria da comunhão com Deus, a ressurreição final.
Pois, “desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo
imperecível” (Prefácio da Missa dos mortos).
Na
realidade, a palavra morte, do latim mors, mortis, traz em geral, uma
sensação de tristeza e de medo. O próprio Jesus, no horto das Oliveiras, sentiu
angústia e chegou a suar sangue. No entanto, Ele acolhe a morte e todo o
sofrimento que ela comporta, oferecendo-a ao Pai em nosso favor. A oferta de
sua vida realiza a nossa salvação e consolida a esperança da humanidade, de
modo a enxugar as lágrimas do nosso coração e transformar a tristeza, sentida na hora da morte de um ente querido, em
saudade. Por isso, na certeza de que os laços inquebrantáveis do amor eterno e
fiel de Deus nos enlaçam e antecipam nosso reencontro no Reino dos Céus, com S.
Gregório de Nazianzo, suplicamos: “Desde já, recebe-nos ó Pai, unidos a todos
os que partem para aquela feliz e intérmina vida que está em Cristo Jesus”.
Saudade sim, tristeza não!
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