Reflexão do Evangelho de domingo 14 de fevereiro



Reflexão do Evangelho de domingo 14 de fevereiro
Lc 4,1-13 - Tentação no deserto


Em S. Lucas, a expressão “o evangelho” não se encontra no seu Evangelho, mas apenas duas vezes nos Atos dos Apóstolos. No entanto, ele emprega, muitas vezes, o verbo evangelizar, no sentido de transmitir a boa notícia da vinda e da proximidade do Reino de Deus, inseparável da pessoa de Jesus: sua vida, morte e ressurreição. Porém, antes de iniciar a sua missão, Jesus sente necessidade de um tempo de jejum e de oração. Então, “guiado pelo Espírito, Ele vai ao deserto, onde foi tentado pelo diabo durante quarenta dias”. O deserto, lugar de recolhimento e de oração, era também visto, popularmente, como espaço reservado ao espírito maligno. Para os monges, era lugar de combate espiritual, onde se podia “saborear a doçura de Deus numa sensação de total liberdade interior”. Na solidão do deserto, no desejo de se colocarem do lado de Deus e não se deixarem dominar pela ideia de um agir supérfluo e ilusório, eles suspiravam: “Acendamos em nós o fogo divino entre esforços e lágrimas”. 
       A tentação pretende, principalmente, provar se alguém está ou não devidamente preparado para realizar a sua missão. Ela não induz diretamente à ideia do pecado. Assim, na história bíblica, o exemplo incisivo é o de Abraão, provado em sua fé, antes de receber a promessa de ter “uma posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e quanto a areia que está na beira do mar” (Gn 22,17).
No deserto, confiando no Pai, Jesus mostra-se fiel à sua missão, numa luta incessante, não diretamente contra o mal, mas contra as ilusões e pretensões de um futuro melhor, que lhe é apresentado pelo tentador como algo concreto e real. Para Ele, Deus não é uma ilusão; Ele é o seu Pai, aquele que o enviou como redentor e salvador da humanidade. Em Jesus, as tentações ou as tentativas para desviá-lo do cumprimento da vontade do Pai transformam-se, ao invés, em manifestação do que é pertencer a Deus e ser fiel à sua missão. Nesse sentido, as tentações preanunciam as contradições, acusações e ataques que Jesus sofrerá ao longo de sua vida pública, o que é sugerido pelo fato de Ele ter permanecido quarenta dias no deserto, lembrando os quarenta anos de Israel no deserto, tempo de intimidade com Deus, e os quarenta dias que Moisés esteve no alto do monte Sinai.
       Narra-se uma discussão entre Jesus, denominado de “o Filho de Deus”, e o diabo. Assim, duas tentações, a primeira e a terceira: “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”; e levando-o ao “mais alto do templo lhe disse: Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo”, visam provar se Ele é de fato o Filho de Deus. A outra tentação, no alto do monte, descortinando os reinos do mundo, traz a ideia de um reino messiânico político, em âmbito mundial.
Em suas respostas, Jesus revela ser o Filho de Deus não apenas por causa dos milagres, tampouco por ostentar poder mundano ou riquezas materiais, mas pela sua obediência ao Pai, em quem Ele confia de modo absoluto. Nessa confiança, Ele saciará a fome espiritual dos que vão a Ele, impelindo-os a partilhar o pão com os que passam fome; e, no momento oportuno, pela sua morte, Ele se entregará nas mãos do Pai, que o ressuscitará no terceiro dia. Antes, em outro monte, Ele falará das bem-aventuranças, fonte das riquezas do amor e da misericórdia divina.
A vitória de Jesus assinala a vinda do reino de Deus como o reino de paz e felicidade, não unicamente pela realização dos milagres, mas, particularmente, pela força de sua Palavra, que converte os corações e renova a vida de multidões, comunicando a certeza de que o reinado de Deus é oferta de perdão e salvação. Não se trata de uma oposição entre o mundo de hoje e o mundo do além, mas de uma recriação da humanidade e inauguração de um novo tempo, pois nele tudo se renova e ganha vitalidade.  Com S. Francisco de Assis, sentimo-nos irmãos e irmãs da água, do fogo, do sol e de cada pessoa que encontramos; e, segundo o lema da Campanha da Fraternidade deste ano: “Casa comum, nossa responsabilidade”, estaremos salvando cada animal, cada planta, cada espécie. Eis a nossa missão; não nos desviemos dela!



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