Reflexão do Evangelho de quarta-feira 16 de março e de quinta-feira 17 de março



Reflexão do Evangelho de quarta-feira 16 de março e de quinta-feira 17 de março
Jo 8, 31-42. 51-59 - Jesus e Abraão


       Para os fariseus e escribas, Jesus está delirando ao afirmar: “Se alguém guardar a minha palavra jamais verá a morte”. Pois Abraão e os profetas morreram, como pode Ele prometer que quem acredita nele não vai morrer? Como é possível? A reação deles é grande. Jesus não se refere à morte corporal, mas sim à morte espiritual, que inclui a ressurreição final do corpo, pois o ser humano, diz Orígenes, “por sua natureza, corpo e espírito, foi criado para acolher a glória de Deus”. Porém, em sua incredulidade, os ouvintes de Jesus distorcem suas palavras e as interpretam como se significassem, simplesmente, a ausência da morte corporal.
Pasmo, desprezo! Não o entendendo, seus adversários perguntam-lhe: “Quem tu pretendes ser? ” “Porventura, és maior que nosso pai Abraão? ” Sereno, sem nada esperar deles, Jesus lhes assegura que sua glória provém do Pai, conhecido por Ele, pois caso negasse, seria igual a eles: um mentiroso. E, para espanto deles, acrescenta: “Vosso pai Abraão rejubilou-se por ver o meu dia; e ele viu e alegrou-se”.
Fustigados, aguilhoados por essas palavras, seus adversários reagem: “Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? ”. A oposição estabelecida por seus adversários não existe, pois, em Jesus, realiza-se o que Abraão esperava. Escreve S. Irineu: “O Senhor não era desconhecido de Abraão, pois ele desejava ver o seu dia: o Verbo lhe tinha ensinado Deus, e Abraão creu”. Então, Jesus, sem titubear, reafirma: “Antes que Abraão fosse eu sou”. O ser (einai) que Jesus atribui a si mesmo não corresponde ao nascer (ginesthai, vir a ser) de Abraão.      
Seus adversários julgam estar Ele se apropriando das palavras de Deus ditas a Moisés, junto à sarça ardente: “Eu sou aquele que sou” (Ex. 3,14). E eles não estão equivocados, pois Jesus afirma ser justamente o que Deus é: “Antes que Abraão viesse a existir, Eu sou”. Incapazes de reconhecê-lo como o Messias ou o Filho de Deus, eles pegam em pedras para apedrejá-lo. Não querem mais ouvi-lo. “Jesus, porém, ocultou-se e saiu do Templo”. Nesse momento decisivo e radical, em que afirma sua natureza divina, declarando sua perfeita união com o Pai, Ele transmite aos seus seguidores a força de sua misericórdia; aos adversários resta, simplesmente, a exclamação: “Ele blasfema! ”.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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