Reflexão do Evangelho de quinta-feira 24 de março – Tríduo Pascal



Reflexão do Evangelho de quinta-feira 24 de março – Tríduo Pascal
Jo 13,1-15 - Última Ceia

      
       Ao cair da tarde, Jesus entrou na cidade de Jerusalém com os discípulos, pedindo a Pedro e João que fossem à casa de “alguém” e lhe dissessem que o Mestre ia celebrar lá a Páscoa com os seus discípulos. Quando Jesus chega, tudo já está preparado: no andar de cima, uma ampla sala, pronta, varrida e sobre a mesa alguns pratos com o pão ázimo, as jarras de vinho e as taças. Na hora da ceia, segundo a tradição, todos se estendem sobre pequenos leitos baixos: João ao lado do Mestre, Pedro na frente e Judas não muito distante. Através de hinos e orações, aquele momento sagrado foi perpetuado pela Igreja nascente e será motivo de inspiração para grandes mestres como Giotto e Leonardo da Vinci.
Durante a ceia, Jesus anuncia solenemente: é chegada a “hora”, e a hora é agora; e com o coração palpitante de amor, faz o seu último e mais íntimo discurso, que o evangelista introduz com as palavras: “Tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim”. “Até o fim”, expressão que significa não apenas o último momento, mas “a plenitude” de sua vida terrena, prenúncio do seu brado no alto da cruz: “Tudo está consumado”.
Após lavar simbolicamente as mãos, rito prescrito para o início da ceia, para surpresa de todos, Jesus levanta-se, cinge-se com uma toalha e põe-se a lavar os pés dos Apóstolos. Segundo costume judaico, tal gesto, geralmente confiado a um servo ou escravo, deveria ter acontecido antes de eles terem ido à mesa. Mas na comunidade de Jesus não havia e nem poderia haver a função de servos, pois esta é exercida pelo próprio Mestre, Jesus, servo de Deus e dos homens. Pasmos, os Apóstolos o veem passar de um a outro discípulo, lavando seus pés. Ao chegar junto a Pedro, este protesta: “Senhor, tu, lavar-me os pés? ”. A resposta do Senhor é imediata: “O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde”, e, indo além do simples rito da ceia pascal, lhe diz: “Se não te lavar, não terás parte comigo”.  Ele antecipa o rito de purificação, rito necessário para fazer parte do seu convívio e participar da vida de comunhão com o Pai.
Voltando à mesa, após se sentar lhes diz: “Compreendeis o que acabo de fazer? Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”. Palavras que nos colocam diante de um mistério, que vai além do simples fato de lavar materialmente os pés aos irmãos. Englobando todas as suas atividades, o lava-pés exprime sua vida dedicada ao serviço dos outros, e exprime aqui na terra o que se passa no mundo de Deus: irradiação da interioridade divina, que se revela através da transcendência de uma face humana; a sua morte não será o desfecho de uma vida, mas parte integrante de uma missão.
 Retomando a ceia, “enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, o partiu, e o deu a eles dizendo: ‘tomai, isto é o meu corpo’”. O gesto de partir o pão e distribui-lo entre eles exprime fraternidade, comunhão, mas também imolação de sua vida ao Pai, supremo ato de amor e de doação, que irá caracterizar a Eucaristia como “fração do pão”. A seguir, tomou “o cálice de ação de graças” e disse: “este é o cálice do meu sangue”, o sangue da nova Aliança, derramado na cruz, pois a ceia jamais deixará de estar associada à cruz.
Por conseguinte, celebrar a Eucaristia é participar do amor infinito do Senhor, presente de modo real no meio de nós, oferecendo aos irmãos nosso “corpo”, isto é, nosso tempo, nossas capacidades e energias. Nossa vida será, então, um constante lava-pés, um serviço despretensioso ao próximo, uma vida dedicada ao bem dos outros. A Eucaristia é um mistério a ser contemplado, adorado e também vivido, segundo as próprias palavras do Senhor: “Sabendo disso, vós sereis felizes, se o praticardes” (Jo 13,17).

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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