Reflexão do Evangelho de terça-feira 22 de março e quarta-feira 23 de março
Reflexão
do Evangelho de terça-feira 22 de março e quarta-feira 23 de março
Jo 13,
21-33.36-38 Mt 26, 14-25 - Anúncio da traição de Judas
A declaração de Jesus: “Um de vós me
entregará”, inscreve-se no coração mesmo da última ceia. Justamente pela sua imprecisão,
suas palavras trazem inquietação e perplexidade. Os Apóstolos se entreolham e
se perguntam: Quem será? Sem obter uma resposta direta, todos notam o olhar
triste do Mestre ao pronunciar o salmo: “Aquele que come comigo ergueu o
calcanhar contra mim”. Confusos, temerosos, inseguros, eles se perguntam um
depois do outro: “Não sou eu, sou? ” Escreve Orígenes: “Jesus fala, de modo
geral, para provar a qualidade de seus corações, para mostrar que os Apóstolos
acreditavam mais nas palavras do Mestre, que em sua própria consciência”.
Também Judas, após hesitar um instante, ousa perguntar: “Porventura sou eu? ”.
Angustiado
pela incerteza, Pedro recorre ao discípulo, que estava ao lado do Mestre, para saber
quem era o traidor. Recostado sobre o peito de Jesus, isto é, “tendo
conhecimento íntimo do Mestre”, segundo Orígenes, João recebe como resposta: “É
aquele a quem eu der o pão, que vou umedecer no molho”. Ao sugerir que é alguém
que come do mesmo pão, Jesus torna dramático o contraste entre a comunhão à
mesa dos irmãos e a traição. Mas querendo talvez, mais uma vez, salvar a ovelha
desgarrada, Ele tomou um bocado de pão e o deu a Judas, que, ao invés de se
deixar iluminar pela misericórdia divina, tornou-se ainda mais sombrio;
“satanás entrou nele”, segundo o evangelista.
No
entanto, predominam a paciência e a bondade do Mestre. Ele não amaldiçoa, nem
condena. Suas palavras são um último apelo à conversão. Mesmo ao dizer o
terrível “aí”, sem deixar de indicar que a responsabilidade cabe a Judas, o
Senhor não o abandona; é uma exclamação de dor, mais do que uma fórmula de
maldição. Por isso, fitando-o nos olhos, Jesus lhe diz: “Faze depressa o que
tens a fazer”. O doloroso enigma do mal praticado, resultado da opção de Judas que
lhe permite resvalar em erro, ressalta a tensão existente entre a liberdade responsável
e os desígnios divinos.
Então
nesse contexto, a observação do Evangelho de que “era noite” adquire um valor
simbólico dramático, pois, no dizer de S. Agostinho, “a noite acudia em auxílio
da noite”. Em outras palavras, afastando-se da luz, Judas embrenhou-se nas
trevas da noite, e quem anda à noite tropeça, pois não sabe aonde ir. S. Cirilo
de Alexandria dirá: “O infeliz respira a pleno pulmão esta ‘noite’, que é o
poder dos maus desígnios”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
Comentários
Postar um comentário