Reflexão do Evangelho de sábado 16 de abril



Reflexão do Evangelho de sábado 16 de abril
Jo 6, 60-69 - Esta palavra é dura

        Surpresos, os discípulos ouvem Jesus proclamar: “Este é o pão que desceu do céu”; eu sou o pão da Vida, o pão “que desce do céu para que não morra quem dele comer”. Sem entenderem bem as palavras do Mestre, que as apresenta não de modo impositivo, mas sob a forma de um convite, que implica uma possível recusa, eles sentem dúvidas. Ainda muito apegados à realidade terrena, a dúvida, como um fio deformante, impede-os de ir além da experiência imediata. Sem revogar o que dissera, após perguntar-lhes: “Isto vos escandaliza? ”, Jesus volta a ensiná-los, pois seu amor misericordioso ultrapassa o aspecto salvador de sua missão. Exclama S. Máximo o Confessor: “Deus criou o mundo para tornar-se homem e para que o homem se tornasse deus pela graça”.
Mais impressionante ainda era a frieza e a indiferença dos escribas e fariseus, que julgavam estar Jesus à beira da loucura: é possível anunciar o Reino de Deus como presença da graça e da misericórdia divina, que, em sua dimensão de universalismo, não exclui ninguém? Embora a rejeição deles fosse tão grande, que, num desabafo, Ele tivesse chegado a exclamar: “Vós não conheceis nem a mim, nem a meu Pai! ”, Jesus não mede esforços para levá-los à fé. 
Enfim, vencendo o temor, talvez a timidez, os discípulos confessam: “Esta palavra é dura! Quem pode escutá-la? ”. De fato, “muitos deles, decepcionados, voltam atrás e não andam mais com Ele”, pois para segui-lo não bastava maravilhar-se diante dos milagres ou encantar-se com os seus ensinamentos. O próprio Jesus deixa claro que suas palavras não se resumem a uma ideia ou a uma ideologia, e recrimina-os pela dureza de coração (sklerokardía). Porém, para testá-los, pergunta aos Doze: “Não quereis também vós partir? ”. O impetuoso Apóstolo Pedro responde: “Senhor, a quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna e conhecemos que tu és o Santo de Deus”.  Mais tarde, S. Inácio de Antioquia, a caminho do martírio, irá exclamar: “Vós estais todos unidos, rompendo o mesmo pão que é remédio de imortalidade, antídoto para não mais morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempre. Então, uma só coisa importa: ser encontrado no Cristo Jesus, para a verdadeira vida”.
         As palavras de Jesus não são palavras fragmentárias; nelas, sopra a comunhão fraterna, que se concretiza e se solidifica na comunhão eucarística: presença do corpo histórico de Jesus, nascido de Maria, pregado na cruz, e que, ressuscitado, sobe aos céus. Assim, a realidade celeste de Jesus torna-se a nossa, pois na Eucaristia, Jesus compendia o mundo e o transfigura misteriosamente, levando S. Ambrósio, num arrobo místico, a confessar: “Quem come a vida não pode morrer. Ide a Ele e saciai-vos, porque Ele é o Pão da vida”.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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