Reflexão do Evangelho de terça-feira 26 de abril
Reflexão
do Evangelho de terça-feira 26 de abril
Jo 14,
27-31 - A paz eu vos deixo, a minha paz vos dou.
A
vida humana se desenvolve sob o signo da possibilidade. Pois sendo livre, o
homem pode sempre modificar o ponto de partida de seu agir, conferindo-lhe a
marca de “autenticidade”: ele se define e se experimenta na opção de seus objetivos
e realizações. Daí a importância da comunhão e do diálogo, seja para se chegar
a um reto e justo discernimento, seja para alimentar sua esperança ou
orientação para o futuro: o risco de enveredar-se para o egoísmo ou para a
arrogante e irracional negação da esperança, não está ausente de sua vida.
Nesse
contexto, S. Agostinho, ao refletir sobre a angústia e a fragilidade do caminhar
humano, experimenta a mão misericordiosa de Deus, tocando-o e convocando-o para
um “nascer de novo”, questão que ele desenvolve como sendo uma qualidade
fundamental do ser humano, em seu constante movimento para Deus. Dai a sua
afirmação de que a vida cristã não é renúncia ao desespero, mas sim “filha da
esperança”, fazendo eco à proposição fundamental dos primeiros autores
cristãos: “A comunhão com Deus não diminui, nem destrói a humanidade, mas, ao
contrário, torna-a plenamente humana”.
Essa
compreensão leva S. Agostinho a se render ao poder do amor e a proclamar: só em
Deus, na comunhão do amor, é possível ao homem alcançar a sua realização; mas tudo
depende de sua decisão. Nesse sentido, ele se sente dividido entre sua situação
de pecador e a busca incessante por Deus. No entanto, essa ambiguidade é
superada por conta de um elemento essencial: a presença em sua vida da semente
do bem, que reflete o Logos, o Bem supremo, “pelo qual tudo foi criado”. Dada a
cada ser humano, não apenas enquanto elemento estático, mas também enquanto fim
e desígnio eternos, essa semente nos orienta para Deus, “assemelhando-nos
sempre mais a Cristo”. Então, na harmonização de todas as forças da vida, emerge
um movimento humano autêntico, que se efetiva na verdadeira nova criação de
Deus, o novo céu e a nova terra.
Nesse
horizonte, as palavras de Jesus: “Eu vos deixo a paz, a minha paz vos dou”, assumem
a forma de um legado dado por Ele aos seus seguidores. Assim, ao dizer “a minha
paz”, Ele designa a si próprio, origem de um mundo novo, pois lá onde Ele
aparece, o medo e a perturbação são superados, e é garantida a posse da Terra
Prometida: permanência dos discípulos com Jesus e com o Pai, no Espírito Santo.
Jesus, o “Deus de Paz”, opõe-se aos desejos mentirosos e vãos dos falsos
profetas, e por ser a Verdade, Ele é a paz, que significa salvação, felicidade,
aos que foram criados para a Vida. Dai se infere que a paz, mais do que uma
conquista do homem, é um dom de Deus.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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