Reflexão do Evangelho de terça-feira 5 de abril e quarta-feira 6 de abril
Reflexão do Evangelho de terça-feira 5 de abril e quarta-feira
6 de abril
Jo 3, 8-21 - Encontro com Nicodemos – Jesus, vida e luz
De noite, para
evitar a ironia de seus colegas fariseus, Nicodemos vai ao encontro de Jesus,
que lhe diz: “Quem não nasce ‘de novo’, ou ‘do alto’, não pode entrar no Reino
de Deus”. Com estas palavras, Jesus indica-lhe a necessidade de uma mudança
total no seu modo de pensar e agir; não se pode deixar dominar pela realidade material,
sem qualquer referência a Deus, pois quem nasce da carne e nela permanece
enclausura-se, no dizer dos monges do deserto, no egoísmo, na ganância e na
cobiça. Por outro lado, quem acolhe Jesus nasce do alto, “nasce do Espírito e é
espírito”.
De imediato, Nicodemos
não compreende o sentido de suas palavras. Mas ao ouvir Jesus se denominar Filho
do Homem e que haveria de ser levantado, como “Moisés levantou a serpente no
deserto”, ele começa a entrever o que lhe é sugerido: dirigir-se ao deserto, ou
seja, afastar-se de seus esquemas individualistas e tornar-se nômade de Deus. Pois
para se chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus é preciso, segundo o Mestre, saber
ouvir a voz do vento, “que sopra onde quer, você ouve o seu ruído, mas não sabe
de onde vem, nem para onde vai”. Por conseguinte, nascer “do alto” é viver
segundo o Espírito, que comporta viver a liberdade, pois “onde está o Espírito
aí está a liberdade” (2Cor 3,17).
Mas por que o Filho do Homem devia ser elevado
na cruz? Exatamente, porque sua cruz é presença do amor, força capaz de destruir,
pela livre doação de sua vida ao Pai, o muro de separação entre Deus e o homem,
entre céu e terra, e dos homens entre si. Em outras palavras, viver segundo o
Espírito, nascer do alto, se contrapõe a viver segundo a Lei, que escraviza com
“cargas pesadas, postas nas costas do povo”. Então, assim como Paulo, Nicodemos
reconhece que Jesus é um “dom” de Deus; segui-lo é saber-se amado por Deus e é
responder ao amor com amor, fruto não do esforço humano, mas da graça divina: “A
lei que condena, dirá S. Cirilo de Alexandria, se transformou em graça que
justifica”. Por fim, as palavras “nascer do alto”, que lhe pareciam tão incompreensíveis,
adquirem sentido e passa a significar: liberdade interior; liberdade não filosófica
ou política, mas liberdade diante da Lei e das múltiplas determinações casuísticas
estabelecidas por eles, doutores da Lei, pelos escribas e fariseus. A
propósito, dirá Berdjaev: “A religião de Cristo é religião da liberdade e do
amor”.
Iluminado pela fé, os olhos do seu coração se
abrem e ele contempla a face humana de Deus, que o acolhe em sua misericórdia para
um novo começo, um novo início, uma nova esperança. A paz o envolve, a cruz não
mais o escandaliza; torna-se causa do “enaltecimento” de Jesus, em quem ele se
sente incluído como filho amado do Pai celestial. Por fim, o diálogo com Jesus torna-se
ressonância do êxodo, caminho para a Terra Prometida, na qual Nicodemos foi
introduzido para participar da “liberdade dos filhos de Deus”.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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