Reflexão do Evangelho de terça-feira 19 de abril



Reflexão do Evangelho de terça-feira 19 de abril
Jo 10, 22-30 - Jesus se declara Filho de Deus


        Certa feita, vendo Jesus “andando sob o pórtico de Salomão”, os fariseus e doutores da Lei sentem-se perturbados com seu modo simples e humilde de ser. Se grande era a curiosidade, não menos era a maldade presente em seus corações, ao lhe perguntarem se Ele era de fato o Messias, aquele que viria restabelecer o reino de Israel, reino de justiça e de paz. A questão era bastante atual, sobretudo, em vista da opressão romana a que estavam submetidos.
        Entretanto, o olhar de Jesus parecia divagar, estava distante, como que divisando a arrogância e a maldade, por trás da fachada solene e majestosa dos que o interrogavam. Seu silêncio, porém, os constrange. O Evangelista diz que “era a inverno” para significar, comenta S. Agostinho, “que o coração dos ouvintes estava gelado, pois não se deixavam aquecer pelo fogo divino, do qual só se aproxima pela fé”. Impacientes, eles insistem: “Até quando nos manterás em suspenso? Diz-nos abertamente”. Talvez temessem que Ele lhes falasse em parábolas. Cauteloso, Jesus não declara ser o Cristo; não quer que pensem ser Ele o Messias guerreiro e político. Finalmente, Ele se volta para eles, e, de modo direto e simples, responde-lhes: “Já vos disse, mas não acreditais. As obras que faço, em nome de meu Pai, dão testemunho de mim; mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas”.
        Bastavam-lhes, sem dúvida, os sinais realizados por Ele: os milagres, como a multiplicação dos pães; seu olhar misericordioso; suas palavras de perdão e de compreensão. No entanto, para que não deixassem de reconhecer a Verdade viva, manifestada por Ele, e não permanecessem surdos ao seu anúncio, fala-lhes de sua intimidade com o Pai e de sua misericórdia. Eles se mostram impenetráveis, únicos capazes de manobrar as rédeas da salvação.
Em contraste a eles, tantos outros ouvem a sua voz e o seguem. A estes, para exasperação de seus inimigos, Jesus declara: “Eu lhes dou a vida eterna”. E não só. Estes jamais se perderão, pois Ele declara tê-los recebido do próprio Pai e ninguém, mesmo que venha com a audácia do ladrão ou com a violência do salteador, poderá arrancá-los de suas mãos. Sensibilizados, seus discípulos sentem profunda confiança no Mestre, que lhes diz: “Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos”; palavras que se referem, segundo S. Agostinho, à natureza e ao poder divino conferido pelo Pai a Jesus, o divino Pastor.
 Os Apóstolos reconhecem ser Jesus a garantia definitiva de salvação da parte de Deus: Ele é Deus agindo no meio de nós; se não fosse assim, suas obras não atestariam sua união com o Pai. Ao invés, ao ouvi-lo afirmar sua identidade com o Pai: “O Pai está em mim e eu no Pai” e, logo a seguir: “Eu e o Pai somos um”, seus inimigos ficam indignados e apanham pedras para lapidá-lo, porque, dizem eles: “Sendo homem, tu te fazes Deus”. Todavia, sereno, sem se retratar, Jesus vai além e estende a filiação divina a todos os que o acolhem. Suas palavras comunicam alegria, doçura, ternura imensa, sinal do encontro com Deus e da acolhida ilimitada do próximo.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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