Reflexão do Evangelho de segunda-feira 04 de abril
Reflexão
do Evangelho de segunda-feira 04 de abril
Jo, 3,
1-8 - Encontro com Nicodemos (I)
As palavras de Jesus deixavam uma
impressão forte em todos os que o ouviam. Um deles foi Nicodemos, que o procura
no silêncio da noite, às escondidas, querendo evitar a crítica dos demais
membros do Sinédrio. Ao chegar, ele saúda Jesus: “Rabi, sabemos que vens da
parte de Deus, como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes se
Deus não estiver com ele”. Ouvindo-o e compreendendo o que se passa em seu
coração, Jesus lhe diz: “Em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode
ver o Reino de Deus”. Admirado pela
inesperada e imediata reação de Jesus, ele procura defender-se: “Nascer de
novo, como pode isto acontecer? ”. Jesus não apresenta argumentos ou razões, nem
boas disposições ou atitudes específicas, simplesmente acentua a necessidade de
um “nascimento”. As palavras do Senhor
trazem-lhe conforto, mas não evitam que seu coração permaneça inquieto e
confuso, para num tom mais áspero perguntar-lhe: “Pode alguém voltar ao seio de
sua mãe e nascer de novo? ”.
Com
uma doce ironia, Jesus lhe responde: “Tu mestre em Israel e não sabes essas
coisas”. Por não existir uma correlação entre o que Nicodemos ouve e sua busca
interior, ele não o entende; dificuldade reconhecida por Jesus, que lhe diz de
novo: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O
que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te
admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto”. Nicodemos sente-se
desafiado: o Mestre não ignora a sua busca espiritual. Talvez até aquele
momento, Nicodemos, fechado em seu mundo casuístico e preso às práticas
exteriores da Lei, não tivesse ainda enfrentado para valer semelhante combate
interior. Daí ser decisivo o seu encontro com Jesus, como condição para sair de
seu sonambulismo cotidiano, e livrar-se das areias que, em sua alma, encobrem a
fonte de água viva. Porém, apesar de atormentado pela preocupação última, que
ele experimenta como sentido derradeiro de sua vida, ele não se rende.
O diálogo entre ambos se estende. Quase
num último esforço, utilizando a imagem do vento, que sopra onde quer, ouve-se
o seu ruído, mas não se sabe donde vem, Jesus conclui: “Assim acontece com todo
aquele que nasceu do Espírito”, que em Ezequiel significa, sobretudo, a
liberdade de Deus. Nicodemos sente o impacto dessas palavras, e reconhece que a
essência de sua vida é colocar-se em contínua interlocução com Deus, que supõe o
mistério da liberdade, em cujo limiar os doutores da Lei permaneciam “imóveis”.
Mas Jesus não apenas se refere à liberdade, Ele diz ser Ele próprio a verdade da
liberdade, pois quem nasce do alto é guiado pela fé e tem acesso à verdade
viva, que exclui toda tentativa de identificar Deus ao sistema de práticas rituais
e prescrições cultuais. Segundo S. Gregório de Nissa, a liberdade não resulta
apenas de uma vida humana autônoma, “mas de uma situação realmente natural ao
homem: a comunhão com Deus”, fim e desejo eternos, aos quais somos chamados a
realizar.
Comovido,
Nicodemos sente suas dúvidas se dissiparem. Nada lhe impede de nascer do alto e
participar, na pessoa de Cristo, da presença do amor e da graça divina. Assim
como ele, também nós somos convidados a ir à fonte da água viva: nela renasceremos
e “endossaremos as vestes da luz inefável e, na plenitude da acolhida ilimitada
de Jesus, participaremos, desde já, da vida eterna” (Pseudo-Macário).
Dom
Fernando Antônio Figueiredo, OFM
Comentários
Postar um comentário