Reflexão do Evangelho de domingo 24 de julho





Reflexão do Evangelho de domingo 24 de julho
Lc 11,1-13 - A oração do Pai-Nosso


No tempo de Jesus, a palavra “Pai” não se encontrava em nenhuma oração dirigida a Deus. No entanto, nos Evangelhos, por doze vezes, sem contar os textos paralelos, Jesus se dirige, em sua oração, “ao Pai”, com quem Ele se relaciona de modo natural e simples. Essa atitude de Jesus, que expressa uma profunda experiência religiosa de intimidade com Deus, ficou gravada no coração de seus discípulos, que assumiram também para si o “Pai-Nosso”, como fórmula de oração. Intimidade que não se restringe à oração, mas se estende à sua mensagem, atividades e até ao seu modo de falar, provocando espanto aos ouvintes, já escandalizados pela autoridade com que Ele falava da vinda do Reino de Deus como salvação para a humanidade.
A oração do Pai-Nosso se inscreve no âmbito da cotidianidade da vida cristã, conforme recomendação da “Didaqué ou Doutrina dos Doze Apóstolos” (dos anos 60-80 d.C.), dada pouco antes de transcrever o Pai-Nosso: “Assim orareis três vezes ao dia”. Aos que se preparavam para o batismo, os catecúmenos, ela é entregue solenemente, suscitando belíssimos comentários em muitos Padres, entre os quais Tertuliano, S. Cirilo de Jerusalém, S. Agostinho e S. Pedro Crisólogo. Assim, em seu comentário sobre o Pai-Nosso, S. Cipriano lembra que ao se dizer: “Santificado seja o vosso nome”, não estamos santificando o Senhor com nossas orações, “mas estamos pedindo a Ele que o seu nome seja santificado em nós”.
“Venha a nós o vosso reino”: esta talvez seja a súplica mais importante feita pelos primeiros cristãos, que experimentavam a presença de Jesus, agindo na história para o seu bem, e também já aguardavam a sua vinda final, quando então Ele iria estabelecer definitivamente seu reino de paz e de felicidade. Dessa maneira, o Pai-Nosso é a força que mantém em coesão a comunidade dos discípulos, que, voltados para Deus, abrem o coração ao seu incondicional amor por todas as criaturas; é a energia espiritual interior que leva cada um deles à comunhão é à doação mútua, permitindo-lhe dizer, não “meu” Pai, mas “nosso” Pai, a quem ele pede o pão “nosso” de cada dia. O perdão, a ele concedido, é vivido no perdão aos seus semelhantes, que efetiva, em seu coração, a bondade de Jesus, sinal de sua misericórdia. Consequentemente, ser cristão é ser “misericordioso, como o Pai celeste é misericordioso”: no perdão do Filho Jesus, ele é recriado, torna-se nova criatura, e é “luz do mundo”, no despontar de um novo céu e de uma nova terra. Na oração do Pai-Nosso, o discípulo abandona o egoísmo e se abre à comunhão com Deus e com os irmãos, e cuida da criação, com respeito e amor desinteressado.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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