Reflexão do Evangelho de sábado 02 de julho
Reflexão
do Evangelho de sábado 02 de julho
Mt
9,14-15 - Discurso sobre o jejum
Apesar de os profetas terem
insistido menos sobre a severidade do jejum e muito mais sobre a conduta justa
e caritativa para com o próximo, os discípulos de João Batista e os fariseus
multiplicavam jejuns e orações. Em Jesus, a voz dos profetas se plenifica. Num
horizonte mais amplo, Ele mostra que a sorte do mundo e o destino do homem
estão intimamente unidos; a transfiguração do homem indica que a figura deste mundo
passará, mas ele não será destruído, será purificado, tornar-se-á melhor. É a verdadeira
criação de Deus: o mundo adquirirá novas qualidades de acordo com as qualidades
do homem ressuscitado. Nesse sentido, o jejum passa a significar uma renovação
do homem e do mundo, de tal modo que, deixando para trás toda tendência à
vitimização ou à teatralização, ele constitui um gesto religioso que prepara o
homem para acolher, de modo incondicional, o Reino como dom gratuito de Deus.
Para uma melhor compreensão, Jesus se
apresenta como o “noivo” das núpcias de Deus com o seu povo, e os discípulos
são descritos como os amigos do noivo. Aos que criticam os Apóstolos por não jejuarem,
Jesus, com certa ironia, pergunta-lhes: “Podem os amigos do noivo jejuar enquanto
o noivo está com eles? ”. S. Hilário de Poitiers conclui que “o fato de eles não
jejuarem demonstra a alegria dos discípulos com a presença de Jesus. Nesse
período, não se há de jejuar, porque o Esposo está lá e com Ele o tempo
messiânico, tempo de núpcias, de abundância e de alegria”. Mas a observação do
Senhor não lhes escapa: “Quando Ele lhes for tirado, eles jejuarão”. Ou, no
dizer de S. Basílio Magno: “Eles então jejuarão, pois suas vidas estarão
orientadas para as realidades, que ultrapassam os bens simplesmente materiais e
carnais”. Não só, mas pela prática do jejum, os discípulos estarão proclamando,
em seu corpo particularizado, isto é, em sua individualidade, a sua
participação no corpo transfigurado de Jesus.
Em
outras palavras, o tempo em que vivemos é um tempo messiânico, início de nossa
transfiguração. Com essa intuição luminosa, destacando a continuidade do ser
humano em sua totalidade, corpo e alma, S. Agostinho recorda a uma irmã, que se
sentia desconsolada pela morte de seu irmão: “O amor de teu irmão não pereceu,
pois ele te amou e ele te ama; ele permanece conservado em teu tesouro e
escondido com Cristo no Senhor”. E, mais adiante, ele conclui: “Nós não
perdemos os que emigraram desta vida antes de nós: nós os enviamos à outra vida
onde nós nos reencontraremos, e onde eles serão ainda mais caros a nós do que
são intimamente conhecidos”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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