Reflexão do Evangelho do dia 04 de Agosto de 2013


Domingo – 04 de agosto

Lc 12, 13-21: Não ajuntar tesouros

 

          Embora recuse ser o mediador na questão de herança entre dois irmãos, Jesus não deixa de aproveitar a ocasião para elevar o espírito de seus interlocutores e fazê-los passar dos interesses temporais ao “tesouro” eterno no Reino dos céus. Alertando contra a excessiva preocupação com os bens deste mundo, ele lhes recomenda: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”. De fato, escreve S. Agostinho, “a cupidez divide, a caridade reúne todas as pessoas”. Por isso, S. Ambrósio, com um sabor de crítica, observa: “O que se deveria buscar é a herança da imortalidade, não a do dinheiro, e assim jamais se deveria chamar Jesus para fazer tal divisão”. 

Para ilustrar o seu pensamento, Jesus conta a parábola do rico, cuja terra tinha produzido muitos frutos. “Ele, então, refletia: Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”. Após construir celeiros maiores, diz: “agora, repousa, come, bebe, regala-te”. E Jesus encerra a parábola com as palavras: “Insensato, nessa mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão?” E, voltando-se para seus ouvintes, conclui: “Assim, acontece àquele que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus”.

         Suas palavras valem não só para os que disputam a herança, mas também para os demais ouvintes. Todos são exortados a se afastarem da avareza, considerada como egoísmo e idolatria, e a se deixarem guiar por uma real atitude de confiança filial e fraterna. S. Cirilo de Alexandria, meditando tais palavras, após afirmar que “a cupidez é uma forma de idolatria”, reconhece que “somos alertados por Jesus contra a cobiça, pois ela constitui ódio tanto aos homens quanto a Deus”. Ao invés, a confiança em Deus torna-nos livres para dispor generosamente de nossos bens e solidificar nossa convivência fraterna. 

          A alternativa que Ele estabelece não é entre a pobreza e a riqueza, mas entre a realização terrestre, temporária, e a plenitude celeste, eterna. De um lado, a avareza, fechada sobre si mesma, estéril, e de antemão condenada por uma morte inevitável; de outro lado, a generosidade que distribui aos outros, mais pobres, o que se recebeu da liberalidade do Criador e da natureza. O modelo é o próprio Cristo que, longe de guardar avara e egoisticamente para si sua natureza e sua riqueza divina, se aniquilou ao encarnar-se, a fim de vencer com sua morte o mal, o egoísmo e a vaidade do pecado. Diante das palavras do rico que dizia: “Vou demolir meus celeiros, construir maiores, e lá hei de recolher todo o meu trigo e os meus bens”, S. Agostinho declara com ênfase: “o estômago do pobre é o depósito mais seguro para os grãos recolhidos”. 

          S. Basílio Magno, referindo-se a este texto, destaca que Jesus “queria conduzir o espírito do homem à generosidade para com os pobres. Toma consciência, ó homem! Quem é esse que dá? Lembra-te de ti mesmo: Quem és tu? Do que és responsável? De quem o recebeste? Por que tens recebido muito mais do que muitos outros? Tu te tornaste ministro do Deus todo bondoso para administrar em favor de teus coirmãos. O que tens em tuas mãos, tu deves considerar como não te pertencendo. Por um pouco de tempo tu gozas destes bens, depois eles passam, e te pedirão contas deles. ‘Dizes tu: que farei eu?’ É necessário dizer: ‘Eu saciarei a alma do pobre, eu abrirei meus celeiros, convidarei todos os infelizes’. Lançarei este apelo magnífico: Vós que não tendes pão, vinde a mim! Que cada um tome sua parte, como de uma fonte que pertence a todos, pois são bens dados por Deus!”

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

Comentários

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Reflexão do Evangelho de Lc 9, 51-56 - Jesus não é acolhido pelos samaritanos - Terça-feira 30 de Setembro

Reflexão do Evangelho de Lc 11, 5-13 – A oração perseverante (amigo importuno) - Quinta-feira 09 de Outubro

Reflexão do Evangelho de Jo 7,37-39 - Promessa da água viva - Sábado 07 de Junho