Reflexão do Evangelho de Domingo – 29 de Setembro


Reflexão do Evangelho de Domingo – 29 de Setembro

Lc 16, 19-31: Parábola do mau rico e do pobre Lázaro

        

         A parábola não fala de um rico anônimo, voluntariamente cruel ou desdenhoso. Ele simplesmente ignora o pobre, embora este permaneça à sua porta. Exclama S. Jerônimo: “Ó mais infeliz entre os homens, vês um membro do teu corpo prostrado diante da porta e não tens compaixão. Em meio às tuas riquezas, o que fazes do que te é supérfluo?” Em muitos corações brama a mesma indignação ao verem tantos famintos, desprezados e rejeitados. Quantos, porém, vivem ao lado da miséria, sem vê-la, indiferentes e alheios ao sofrimento dos indigentes. O abismo entre Lázaro, no céu, e o rico, no inferno, foi criado durante sua vida terrena. Ouve-se a dura repreensão de S. Gregório Nazianzeno: “Imitai a imparcialidade de Deus, e não existirão mais pobres”. Forte apelo para despertar o amor e a responsabilidade para com os pobres, quer em nível social quer em âmbito de vida particular.

        O nome Lázaro, dado por Jesus ao pobre, significa “Deus é meu auxílio”. Apesar de uma vida adversa e sofredora, ele não perde sua esperança em Deus. Seus olhos contemplam os tesouros do céu. O mau rico nada vê além das riquezas terrenas, pois permanece preso aos bens materiais e aos prazeres humanos. Preocupado em buscar a felicidade terrena, nem nota o que se passa ao seu redor. Seu coração permanece fechado e vazio. Observa S. Agostinho: “Jesus não se referiu ao nome do rico, mas disse o nome do pobre. O nome do rico andava de boca em boca, mas Deus não o nomeia; silenciavam o nome do pobre, mas Deus o revela. Assim, Deus, que habita no céu, silencia o nome do rico porque não o encontra inscrito no céu. Porém, declara o nome do pobre porque aí o encontra inscrito, por sua própria solicitação”.

         Pródiga em imagens, a parábola retrata a retribuição pessoal concedida a Lázaro e traça os sofrimentos do rico, logo após a morte. Não se espera o fim dos tempos ou o julgamento último. A morte já os introduz na eternidade, marcada por um destino irrevogável. Estaria Jesus sendo muito severo? Ora, já no Antigo Testamento, ao se falar da esmola, sugerem-se consequências para a eternidade. Se ela “cobre uma multidão de pecados”, é necessário que ela não se resuma só à dádiva material. Unindo-se à caridade, ela comporta também um cuidado pessoal com o infeliz, pobre ou desamparado. Pois, diz S. Gregório de Nissa, “os pobres são os administradores de nossa esperança”.  

A parábola traduz, com veemência e ardor, o apelo à conversão: Afastem-se as trevas do egoísmo e da ganância, do indiferentismo face à miséria do próximo, e abra-se o coração à generosidade e ao amor dadivoso e desinteressado.  Clama S. Hilário de Poitiers: “Deus não é medo, castigo, remorso, mas boa nova, amor, Ele é Pai”. Recordando a passagem do Evangelho: “com a medida com que medis sereis medidos”, S. Agostinho insiste: “ao rico, no tormento, é negada a misericórdia, porque não quis usar de misericórdia em sua vida. Por isso, quando em meio aos sofrimentos, ele invoca a piedade, não é ouvido, porque sobre a terra não acolheu as súplicas do pobre”.  Seu coração permanece fechado à misericórdia.  

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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