Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 13 de setembro


Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 13 de setembro

Lc 6, 39-42: Tirar a trave do seu olho

 

         No perdão, Deus manifesta seu amor por nós. Jesus nos aconselha a ser benévolos em nossos julgamentos e ao dizer: “Não julgueis para não serdes julgados”, ele dá ao nosso julgamento um alcance sobrenatural e o situa  no nível espiritual. Por isso, à advertência “não julgueis”, ele acrescenta a consequência: “e não sereis julgados”. Não se trata da anulação do espírito crítico, mas da recomendação de que não cabe a ninguém o direito de emitir um julgamento de repercussão eterna. A salvação jamais é determinada por uma criatura humana, quem quer que ela seja. Só Deus é o último juiz.

         As palavras de Jesus são um verdadeiro estímulo para que os discípulos cresçam no amor fraterno. Recordo-me de um dito rabínico que diz: “Quem julga seu vizinho favoravelmente será favoravelmente julgado por Deus”. De fato, se é fácil levantar uma suspeita contra alguém, dificuldade maior será julgá-lo de modo imparcial. É o que nos dizem as palavras de São Beda: “É difícil julgar os pensamentos e as intenções de alguém, porque estes são determinados pela disposição do coração. Uma ação aparentemente modesta pode produzir uma grande recompensa, enquanto uma ação mais significativa poderá ter uma recompensa inferior. Como se vê no caso dos hipócritas que clamam: Senhor, Senhor. Eles obterão como resposta: ‘Eu não vos conheço’”. 

         O que prevalece neste capítulo é a visão de um Deus misericordioso e a importância do perdão. Devemos tomar como propósito de vida o hábito de pensar sempre o melhor a respeito do outro. Essencial é crescer no amor a Deus e ao próximo, mas sem excluir quando necessária a correção fraterna, aconselhada no evangelho de São Mateus (18, 15): “Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terá ganho teu irmão”.

 A correção fraterna deve ser compreendida como uma repreensão feita em nome do amor, exatamente como Deus age em relação a nós. Escreve Santo Agostinho: “Alguém pecou por cólera, e tu o repreendes com ódio. Há grande diferença entre cólera e ódio, assim como entre um cisco e uma trave. Pois o ódio é a cólera entranhada: com o tempo, ele adquire tanta força que de cisco poderá se transformar em trave. Se tu só te irritas, tu podes ter a boa vontade de corrigir o culpado; mas se tu o odeias, tu não podes querer sua emenda. Lança para longe de ti teu ódio: e então, este homem que tu amas, tu poderás corrigir”.

          Urge tirar a trave do olho, pois corremos o perigo de ver as coisas de modo muito fragmentário, de nos fixarmos nas ações e nas pessoas em particular e não suficientemente sobre o que determina nossa existência e os laços espirituais que nos unem. Por vezes, há muito escrúpulo e falta de consciência do pecado individual. É a trave no nosso olho. Atemo-nos à ideia de que a salvação é fruto do esforço da vontade. Mas, a trave não desaparecerá de nossa vista até que reconheçamos a salvação como dom gratuito de Deus.

         Então, no ardor do amor generoso e afetuoso do Senhor, derramado em nossos corações, seremos solidários a todos. E será banida de nossa alma a ilusão do orgulho e da presunção. Voltaremos a ver e a luz reaparecerá, semelhante ao sol que perpassa a densidade das nuvens e se mostra pouco a pouco, despertando em nós alegria indizível. Entraremos na união com Deus e nos tornaremos instrumentos de salvação para nossos semelhantes. Purificados e iluminados reconheceremos o cisco no olho do irmão, depurado e iluminado pelo fogo da luz divina.

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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