Reflexão do Evangelho de quarta-feira 07 de setembro






Reflexão do Evangelho de quarta-feira 07 de setembro
 Lc 6, 20-26 - As bem-aventuranças

Numa bela manhã de primavera, o sol inundava a planície em que se encontravam Jesus, ao seu redor, os Doze, o grupo dos discípulos e o povo que Ele tanto amava. Em suas mentes, estavam ainda presentes as primeiras palavras, ditas por Ele, no início de sua missão: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. E agora, sua caridade queria alcançar a vida interior de cada um deles para aí realizá-la em sua forma a mais autêntica e pura. Ele falava com doçura e simplicidade, seus sentimentos transbordavam e inundavam o coração dos ouvintes, “onde, salienta S. Leão Magno, a mão veloz do Verbo escrevia os decretos da nova Aliança”, as bem-aventuranças. Em momento sublime de inspiração, sua voz proclamava a paz e a misericórdia; sua Palavra salvadora superava os antigos limites e marcava o início do novo tempo escatológico: o estado definitivo de felicidade, experiência viva e acessível a todos os que o ouviam.
Ele é o novo Adão, no qual a humanidade encontra a paz e a comunhão com o Criador; os espíritos se acalmam e alcançam a harmonia interna; os pequenos e pobres, os famintos e os que choram, integram o novo Reino de serviço mútuo: é “a vida pura e sem mistura das bem-aventuranças”, segundo S. Gregório de Nissa. Proclamando o cultivo das virtudes, a força do amor e da solidariedade, a coragem de sustentar a verdade e de viver a misericórdia, Jesus dá início à sua pregação profética. Anuncia e denuncia. Ao redobrar as quatro bem-aventuranças com os quatro “ais”, confere-lhes um tom vigoroso e decisivo, pois há os que se opõem a elas, regidos pelo egoísmo, pela dureza de coração e pelo desejo de vantagens pessoais e de autopromoção. Estes jamais compreenderão Jesus e a força de sua Palavra.
Para os cristãos, a mensagem de Jesus é sentido derradeiro da vida humana em Deus e no mundo.  Se as bem-aventuranças falam de despojamento e de pobreza, elas atestam que a riqueza essencial reside no fato de o ser humano não estar fechado sobre si mesmo, mas que ele é um ser em abertura e de perpétua interlocução com Deus: chamado a se colocar em comunhão com todas as criaturas, ele participa do coro universal de louvores a Deus. Ao se deixar guiar pela liberdade interior, as paixões se calam e os movimentos da alma se transformam em caridade, e ele trilha o caminho que o introduz na Terra Prometida: “Então o deserto se transformará em um vergel, e o vergel será tido como uma floresta. O direito habitará no deserto e a justiça morará no vergel. O fruto da justiça será a paz, e a obra da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança para sempre” (Is 32,15-17). É a restauração da criação, melhor, é a verdadeira nova criação, que se instaura em Cristo, total e perfeita comunicação de Deus, vindo a nós em forma de perdão e de misericórdia.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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