Reflexão do Evangelho de quarta-feira 14 de setembro
Reflexão do
Evangelho de quarta-feira 14 de setembro
Jo 3, 13-17 -
Exaltação da Santa Cruz - Jesus, vida e luz
De noite, para evitar a ironia de seus
colegas fariseus, Nicodemos vai ao encontro de Jesus, que lhe diz: “Quem não
nasce ‘de novo’, ou ‘do alto’, não pode entrar no Reino de Deus”. Com estas
palavras, Jesus indica-lhe a necessidade de uma mudança total no seu modo de
pensar e agir; não se pode deixar dominar pela realidade material, sem qualquer
referência a Deus, pois quem nasce da carne e nela permanece enclausura-se, no
dizer dos monges do deserto, no egoísmo, na ganância e na cobiça. Por outro
lado, quem acolhe Jesus nasce do alto, “nasce do Espírito e é espírito”.
De imediato, Nicodemos não compreende o
sentido de suas palavras. Mas ao ouvir Jesus se denominar Filho do Homem e que haveria
de ser levantado, como “Moisés levantou a serpente no deserto”, ele começa a
entrever o que lhe é sugerido: dirigir-se ao deserto, ou seja, afastar-se de
seus esquemas individualistas e tornar-se nômade de Deus. Pois para se chegar ao
verdadeiro conhecimento de Deus é preciso, segundo o Mestre, saber ouvir a voz
do vento, “que sopra onde quer, você ouve o seu ruído, mas não sabe de onde
vem, nem para onde vai”. Por conseguinte, nascer “do alto” é viver segundo o
Espírito, que comporta viver a liberdade, pois “onde está o Espírito aí está a
liberdade” (2Cor 3,17).
Mas
por que o Filho do Homem devia ser elevado na cruz? Exatamente, porque sua cruz
é presença do amor, força capaz de destruir, pela livre doação de sua vida ao
Pai, o muro de separação entre Deus e o homem, entre céu e terra, e dos homens
entre si. Em outras palavras, viver segundo o Espírito, nascer do alto, se
contrapõe a viver segundo a Lei, que escraviza com “cargas pesadas, postas nas
costas do povo”. Então, assim como Paulo, Nicodemos reconhece que Jesus é um
“dom” de Deus; segui-lo é saber-se amado por Deus e é responder ao amor com
amor, fruto não do esforço humano, mas da graça divina: “A lei que condena,
dirá S. Cirilo de Alexandria, se transformou em graça que justifica”. Por fim, as
palavras “nascer do alto”, que lhe pareciam tão incompreensíveis, adquirem
sentido e passam a significar: liberdade interior; liberdade não filosófica ou
política, mas liberdade diante da Lei e das múltiplas determinações casuísticas
estabelecidas por eles, doutores da Lei, pelos escribas e fariseus. A
propósito, dirá Berdjaev: “A religião de Cristo é religião da liberdade e do
amor”.
Iluminado
pela fé, os olhos do seu coração se abrem e ele contempla a face humana de
Deus, que o acolhe em sua misericórdia para um novo começo, um novo início, uma
nova esperança. A paz o envolve, a cruz não mais o escandaliza; torna-se causa
do “enaltecimento” de Jesus, em quem ele se sente incluído como filho amado do
Pai celestial. Por fim, o diálogo com Jesus torna-se ressonância do êxodo, caminho
para a Terra Prometida, na qual Nicodemos foi introduzido para participar da “liberdade
dos filhos de Deus”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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