Reflexão do Evangelho - Domingo, 19 de fevereiro
Reflexão
do Evangelho
Domingo,
19 de fevereiro
Mt
5,38-42 - Olho por olho e dente por dente
Ao interpretar a Torá, dá-se, com Jesus,
a mudança da esfera cultual para a esfera moral-espiritual. Se os códigos do
Antigo Testamento falam do princípio de compensação, referendada pela lei
romana do “talión”: “Vida por vida, olho por olho”, Jesus fala da justiça
misericordiosa e do amor devido aos próprios inimigos. Aliás, no tempo de
Jesus, a prática da Lei do Talião já estava perdendo força, assumindo, provavelmente,
a forma de uma compensação pecuniária.
Em
suas pregações, Jesus destaca que a verdadeira relação de aliança com Deus
compreende a comunhão com o próximo, de maneira que uma oferta feita a Deus,
pelos pecados, só terá força se for acompanhada pela reconciliação com o
próximo ofendido. Para Ele, o objetivo principal da Lei não consiste em frear o
desejo de vingança pessoal, mas conduzir o faltoso à santidade de vida ou à
caridade generosa. Perante seu apelo incisivo para que todos se assemelhem ao
Pai, os doutores da Lei, surpreendidos, não o compreendem ao ouvi-lo dizer: “Sede
perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. A perfeição é possível neste mundo, pois, em
Jesus, diz S. Agostinho, “a violência perde o seu ímpeto e é envolvida pelas
redes da paciente caridade”; o discípulo não só vence o mal com o bem, mas
chega, até mesmo, a desejar o bem daqueles que o ofendem. Tarefa ousada,
resultante de uma grande força interior e espiritual.
Jesus subordina o ato jurídico estrito à
misericórdia divina, centro e vértice espiritual dos Dez Mandamentos do Sinai. A
obediência servil é rejeitada; a obediência filial da fé, fruto do amor
fraterno, torna-se força universal, o espírito do universo, que sintetiza o
sentido da existência humana. Por isso, Ele proclama: “Àquele que quer pleitear
contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te
obriga a andar uma milha, caminha com ele duas”.
A
Lei mosaica é superada pela Lei evangélica, introduzida por Jesus, que, sem deixar
de ser judeu, questiona-os: “Se amais somente aqueles que vos amam, que mérito
tereis com isso? Não agem da mesma forma os pecadores? ” Eis o objetivo principal
ou o ideal a ser buscado pelos seus seguidores: serem todos, efetivamente, “filhos
do Pai que está nos céus, que faz nascer o Sol sobre os maus e os bons, e
chover sobre os justos e os injustos”. Assim, sem cair numa visão casuística, Ele
os exorta a almejar a perfeição espiritual, graças à qual eles se tornam
partícipes, desde já, da feliz eternidade do Pai.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm
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