Reflexão do Evangelho de Domingo – 10 de Novembro


Reflexão do Evangelho de Domingo – 10 de Novembro

Lc 20, 2. 34-38: Ressurreição dos mortos

 

         Uma das questões essenciais, colocada à vida humana, é justamente a que se refere à morte. Os saduceus, atendo-se ao Pentateuco, encontravam motivos para negar a Ressurreição dos mortos. O nome saduceu significa “justo” e, por motivo piedoso, “eles afirmam não servirem a Deus na esperança de uma recompensa” (S..Efrem). Querem amar a Deus na pureza do amor, não presos a uma retribuição.  Consequentemente, a vida limitava-se, para eles, à realidade humana e não concebiam nada além do que seus olhos podiam constatar.

         Jesus rejeita de modo enfático tais afirmações, dizendo estarem eles “no erro” e “não conhecerem as Escrituras”, pois estas revelam, desde o começo, o poder do espírito, sopro vital, que impregna a pessoa em todas as suas ações. O espírito, sinal “dinâmico” de vida, foi-nos comunicado como força interior para caminharmos em direção ao infinito, graças à criatividade no pensar e no agir. Mas, para Ele, a imortalidade é mais do que a sobrevivência, é vida feliz junto de Deus. Tornam-se significativas as palavras do bom ladrão: “Jesus, lembra-te de mim quando chegares ao teu reino”.  E a resposta de Jesus comunica-nos esperança e conforto: “Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no paraíso”.

         Para Santo Irineu a imortalidade não consiste na simples sobrevivência à morte, mas é encontro com Deus. E a vida ressuscitada também não é compreendida como retorno a esta vida terrena, mas ela é apresentada, à luz do monte Tabor, como “transfiguração”. A ressurreição é então vista como intercâmbio vital entre Deus e a criatura humana, hora luminosa, em que somos introduzidos na visão de Deus. Muito a propósito escreve Santo Irineu: “A glória de Deus é a vida do homem e a vida do homem é a visão de Deus”. Também nesse sentido, S. Leão Magno afirma que “no Tabor, Jesus fundava a fé da Santa Igreja, para que ela, Corpo total de Cristo, saiba de qual feliz transformação ela será gratificada, e aos seus membros se dá a esperança de fazer parte da honra que resplandece no Senhor”.

         A morte é momento decisivo, o último ato, graças ao qual o ser humano inicia uma vida plena e intensa que ultrapassa todas as possibilidades da existência terrena. O homem passa a integrar a comunidade celeste, o que leva Santo Ambrósio a descrever a sua entrada na glória como encontro com os amigos da terra e São Jerônimo a afirmar que lá ele estará com pessoas que nunca conheceu, nem tinha ouvido falar, mas que lhe proporcionarão mais felicidade do que o maior amor da terra. Portanto, no supremo amor, a vida eterna não será sempre igual, mas será um crescer constante na comunhão celeste.  

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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